
📉 Governo Lula tenta estancar queda na popularidade, mas cenário ainda é de alerta
Com leve melhora nos números, aliados falam em “virada de chave”, mas reprovação ainda supera aprovação. Crise do Pix, alta dos alimentos e falta de novidades dificultam recuperação do Planalto.
Depois de semanas sendo pressionado pela queda nos índices de aprovação, o governo Lula respirou um pouco mais aliviado ao ver os dados mais recentes do Datafolha. Pela primeira vez em dois meses, a avaliação negativa teve uma leve retração: de 41% para 38%. Mesmo assim, o número de brasileiros que reprovam a gestão continua maior do que o de apoiadores, e o caminho até 2026 ainda parece cheio de obstáculos.
A principal dor de cabeça para o Planalto começou com boatos espalhados por opositores sobre mudanças no Pix. A isso se somaram a inflação nos alimentos e uma percepção de que o governo fala muito, mas entrega pouco de novo. Segundo analistas, repetir programas antigos e embalá-los como se fossem novidades não convence mais como antes.
Na semana passada, Lula reuniu ministros e aliados em Brasília para um evento com cara de campanha antecipada. Tentou vender realizações como o “Desenrola”, o “Pé-de-Meia” e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 2 mil, reforçando o discurso de que “o governo está entregando, só falta comunicar melhor”. Apesar disso, o próprio ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira, acabou dando munição à oposição ao dizer que a impopularidade do governo era responsabilidade de todos os ministros — declaração que caiu como um presente para adversários como o senador Flávio Bolsonaro.
Enquanto isso, vozes críticas acusam Lula de se distanciar do dia a dia do povo. O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), por exemplo, diz que o governo parece surdo às necessidades reais da população: “Gastos excessivos, inflação alta e promessas descumpridas. O brasileiro está cansado e quer soluções, não marketing”, disparou.
Por outro lado, aliados como o deputado Alencar Santana (PT-SP) apostam que os frutos das políticas públicas do governo serão colhidos mais adiante. Ele cita a volta de programas sociais como o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos, o novo Bolsa Família, além do crescimento do emprego e a estabilidade econômica. “A população vai perceber isso com o tempo. Até 2026, a tendência é de melhora”, acredita.
Mas especialistas não compartilham do mesmo otimismo. Para Luciana Santana, professora da Universidade Federal de Alagoas, Lula se precipita ao se colocar no centro da disputa eleitoral antes da hora, especialmente num cenário onde a oposição ainda está reorganizando suas peças. “Soa como desespero. E pode acabar prejudicando ainda mais a imagem dele”, analisa.
Ela aponta também que o excesso de reprises dos programas dos mandatos anteriores pode não surtir o mesmo efeito. “Não basta reeditar o PAC ou o Bolsa Família. O governo precisa apresentar novidades que tenham impacto direto na vida das pessoas — inclusive das que rejeitam Lula.”
Nauê Bernardo, advogado e cientista político, concorda. Para ele, insistir em medidas já anunciadas mostra falta de criatividade. E isso não ajuda a reconquistar a confiança do eleitor. “Se o brasileiro não sente que algo está melhorando no dia a dia — como preço dos alimentos, segurança, emprego — a tendência é continuar caindo. A oposição sabe explorar bem essa insatisfação”, conclui.