
📖 PT tenta quebrar barreiras com evangélicos: curso gratuito aposta no diálogo para virar o jogo
Com alta rejeição entre religiosos, partido lança formação online para combater desinformação e se reconectar com a fé que move parte do eleitorado
Com dificuldades históricas em conquistar o apoio dos evangélicos, o Partido dos Trabalhadores (PT) resolveu mudar de estratégia. Nesta semana, a sigla lança o curso online “Fé e Democracia para Evangélicos e Evangélicas”, promovido pela Fundação Perseu Abramo, com o objetivo claro de abrir um canal de escuta, diálogo e aproximação com um público que, apesar de crescente e influente, ainda olha o partido com desconfiança.
A proposta é gratuita, dura um mês e contará com encontros semanais. O foco? Combater fake news, mostrar como as políticas públicas impactam positivamente as comunidades religiosas e reconstruir pontes com um grupo que representa uma parcela cada vez mais decisiva nas urnas.
Segundo a fundação, esse curso é um passo necessário para lidar com uma realidade já reconhecida: os evangélicos fazem parte do coração da cultura popular brasileira, e não há mais espaço para manter distância. “Se o PT quer continuar sendo um partido do povo, precisa saber falar com quem tem fé”, resume a nota oficial.
Rejeição em alta
A iniciativa surge num momento delicado para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrenta crescente rejeição entre os evangélicos. Dados do instituto Datafolha apontam que, em fevereiro, 48% desse público avaliavam o governo negativamente — um salto expressivo em relação aos 26% registrados em dezembro do ano anterior.
O cientista político Vinícius do Vale, diretor do Observatório Evangélico, vê na ação um sinal de maturidade política. “Não resolve tudo, mas mostra que o partido entendeu a urgência de estabelecer um diálogo sério, duradouro e respeitoso com o segmento evangélico”, afirma.
Uma fala que precisa mudar
Desde o fim de 2023, o próprio Lula já vinha alertando sobre a necessidade de o partido rever sua comunicação com os evangélicos. Durante evento do PT em Brasília, o presidente reconheceu a importância das igrejas na vida de milhões de brasileiros — principalmente das camadas mais populares — e admitiu que o partido ainda não sabe falar a língua desse povo.
“Se fosse simples, a Benedita da Silva, nossa guerreira evangélica, resolvia tudo. Mas não é assim. É um desafio coletivo. Precisamos aprender a narrativa, entender os valores e respeitar quem enxerga na fé um caminho de salvação e dignidade”, disse Lula na ocasião.
Aproximação com respeito
No discurso, Lula destacou ainda que muitas famílias veem nas igrejas evangélicas um porto seguro diante de dificuldades como a violência, a pobreza ou a dependência química. “Muitos agradecem à igreja por ter salvado seus casamentos, suas vidas. E nós, como partido, temos que reconhecer isso.”
Ao criar um curso que se propõe a dialogar sem arrogância, o PT dá o primeiro passo para sair da bolha e ouvir de verdade um Brasil que também tem fé, canta louvor e ora por dias melhores. O desafio agora é saber se o conteúdo vai ecoar onde mais importa: no coração dos fiéis.