
📚 Universidades Federais na UTI: Orçamento de Lula é Menor que o de Temer e Bolsonaro
💡 Contas de luz, água e manutenção estão comprometidas, e infraestrutura das instituições vive colapso à espera de socorro
Apesar dos discursos de valorização da educação, a realidade das universidades federais no governo Lula (PT) conta outra história: o dinheiro destinado para despesas básicas como luz, água, internet, limpeza, segurança e manutenção continua mais baixo do que nos tempos de Temer (MDB) e Bolsonaro (PL), antes da pandemia.
Esse tipo de verba, chamado de orçamento discricionário, é fundamental para manter as universidades funcionando. Inclui desde pagar contas até comprar materiais e garantir benefícios como auxílio-alimentação e transporte para servidores.
De fato, houve um leve aumento nas verbas em 2023 e 2024, segundo levantamento do centro de estudos SoU_Ciência, mas esse avanço tem um limite: quando se excluem os gastos com assistência aos servidores, o que sobra para o funcionamento das universidades federais em 2025 ainda é menor do que o que elas tinham entre 2016 e 2019 — ou seja, antes da chegada da pandemia. E todos os dados já estão corrigidos pela inflação.
🔍 Mais promessas, menos dinheiro na prática
O Ministério da Educação (MEC) reconhece o problema e diz estar fazendo um esforço para recuperar o orçamento, que sofreu cortes drásticos de 2016 a 2022. Para comparação:
- Em 2016, as universidades federais liquidaram R$ 6,7 bilhões para despesas básicas;
- Em 2019, já haviam caído para R$ 5,5 bilhões;
- Durante a pandemia, o tombo foi ainda maior: R$ 3,5 bilhões em 2021;
- Houve uma recuperação em 2023, com R$ 5,2 bilhões, mas em 2024 voltou a cair para R$ 5 bilhões.
Para Weber Tavares, pesquisador do SoU_Ciência e ex-coordenador de orçamento do MEC, o que se vê hoje é um avanço que não dá conta do tamanho da crise:
“As universidades precisam cobrar mais segurança orçamentária. Está andando, mas não na velocidade necessária”, alerta.
Tavares também aponta que parte do problema está na briga por dinheiro dentro do Congresso. As leis orçamentárias de 2023, 2024 e 2025 tiraram recursos da educação para outras áreas.
E não para por aí: um decreto presidencial publicado em abril deste ano (nº 12.448) tornou a situação ainda mais crítica. As universidades vão receber os repasses mensais fatiados em 18 parcelas, mas só 11 serão pagas até novembro — ou seja, só 61% do que estava previsto para o ano. O restante fica para dezembro, se vier.
A Andifes, associação que representa os reitores das 69 universidades federais, deixou claro em nota:
“As universidades enfrentam há anos uma crise orçamentária que só se agrava. Os cortes acumulados seguem produzindo efeitos, mesmo com alguns esforços de recomposição.”
O ministro da Educação, Camilo Santana, até anunciou R$ 400 milhões extras em junho de 2024. Mas, na prática, muitas universidades já relatam que não estão conseguindo pagar nem as contas de água, luz e segurança. A saída? Contingenciar serviços e suspender contratos.
🏚️ Infraestrutura à beira do colapso
O dinheiro para obras, construção de prédios e compra de equipamentos também despencou. Em 2024, o orçamento para infraestrutura foi de apenas R$ 162 milhões, o segundo menor valor desde 2000 — só perde para o ano de 2021, em plena pandemia.
Para se ter uma ideia, esse valor é menor até do que o que foi investido em 2002, quando o Brasil tinha 17 universidades federais a menos do que hoje.
O resultado está estampado nos campi pelo país: obras paradas, prédios caindo aos pedaços e laboratórios sucateados. A UFRJ, por exemplo, precisou cancelar aulas porque as salas estão sem condições mínimas — mas não há verba para as reformas.
O governo até anunciou em 2024 um pacote de R$ 5,5 bilhões para tentar conter a greve dos servidores, que durou até 69 dias em algumas universidades. No entanto, só R$ 250 milhões desse montante eram dinheiro novo; o resto já estava previsto no orçamento.
Para a professora Mariana Almeida, diretora da Fundação Tide Setubal, o problema não é só quanto se gasta, mas qual é a meta para o futuro das universidades.
“O MEC precisa definir o que quer: mais matrículas ou mais qualidade? E aí, sim, brigar por mais dinheiro. Ficar culpando governos passados não resolve.”
🍽️ Assistência estudantil: também ficou para trás
O investimento para ajudar estudantes de baixa renda — transporte, moradia e alimentação — até cresceu desde 2023, mas ainda não voltou ao patamar de Temer e Bolsonaro antes da pandemia.
O PNAES (Programa Nacional de Assistência Estudantil) chegou a ter R$ 1,2 bilhão em 2016, mantendo esse valor até 2019. Com os cortes da pandemia, despencou para R$ 881 milhões em 2021.
No primeiro ano de Lula, subiu para R$ 1 bilhão, e em 2024 chegou a R$ 1,1 bilhão. Ainda assim, o SoU_Ciência alerta:
“Mesmo com esse crescimento, quando ajustado pela inflação, o valor de 2024 é 5% menor do que o de 2015, quando havia menos alunos.”
De fato, os números mostram isso:
- Em 2015, as federais tinham 1 milhão de estudantes.
- Em 2023, são 1,3 milhão.
🏛️ O que diz o governo?
O MEC responde que, nos últimos três anos, seu orçamento cresceu 38%, saindo de R$ 163,9 bilhões em 2022 para R$ 226,4 bilhões previstos em 2025.
A pasta também diz que o governo aumentou em 22% os recursos para as universidades desde 2023, e promete continuar brigando por uma recomposição no orçamento de 2025.
Mas, enquanto a promessa não sai do papel, quem estuda, trabalha ou depende das universidades públicas do Brasil segue assistindo de perto ao colapso da educação pública.