
🔥 20 anos de um fantasma que não se apaga: O mensalão ainda assombra o PT
Entre desculpas, silêncio e negação, partido evita até falar o nome do escândalo que abalou o primeiro governo Lula
Duas décadas se passaram, mas o fantasma do mensalão continua rondando o PT e o próprio presidente Lula. O escândalo, que explodiu em 2005, virou munição permanente nas mãos dos adversários e permanece como um enorme tabu dentro do partido.
Na época, o impacto foi devastador. O esquema de compra de apoio político no Congresso derrubou a cúpula petista, jogou o governo na beira do abismo e quase custou o mandato de Lula no seu primeiro mandato. O próprio presidente, na tentativa de se salvar, fez um discurso emocionado à nação, dizendo se sentir “traído” e admitindo que o partido precisava pedir desculpas.
Mas hoje, o clima no PT é outro. A linha oficial oscila entre minimizar os fatos e alegar que o partido foi alvo de uma grande injustiça, mesmo com as condenações confirmadas pela maioria dos ministros do STF na época. Dentro da legenda, falar de mensalão ainda provoca constrangimento — a ponto de nem Lula querer citar essa palavra.
De denúncia à bomba política
Tudo começou quando Roberto Jefferson, então deputado do PTB e aliado do governo, viu seu nome envolvido num escândalo nos Correios. Encurralado, ele reagiu atirando para todos os lados. Em entrevista bombástica, revelou que o governo pagava uma espécie de mesada para deputados do PL e PP, em troca de votos no Congresso. A revelação foi uma bomba que implodiu o coração do governo petista.
O estrago foi imediato. Nomes de peso como José Dirceu (ministro da Casa Civil), José Genoino (presidente do PT), Delúbio Soares (tesoureiro do partido), Silvio Pereira (secretário-geral) e João Paulo Cunha (ex-presidente da Câmara) foram denunciados, afastados dos cargos e condenados. Só Silvio escapou da prisão ao fechar um acordo para prestar serviços comunitários.
O episódio da prisão do assessor de José Guimarães — flagrado com dólares escondidos na cueca no aeroporto de Congonhas — virou o símbolo máximo do vexame político da época.
“Me traíram”, disse Lula
Pressionado, Lula foi à TV e tentou se desvincular dos fatos. “Sinto-me traído. O PT tem que pedir desculpas, o governo tem que pedir desculpas onde errou”, declarou, enquanto tentava apagar o incêndio.
O escândalo revelou que parte do dinheiro usado no esquema vinha do desvio de recursos do Banco do Brasil. Naquele momento, a ameaça de impeachment parecia real, e Lula precisou de muito jogo de cintura para sobreviver politicamente.
A conta chegou… anos depois
O julgamento só veio em 2012, quando o STF condenou 24 pessoas envolvidas no mensalão. Foi o maior julgamento da história do Supremo até então. E com ele surgiu uma nova dor dentro do PT: a sensação de que o partido estava sendo julgado não só pelos erros, mas também pelo peso simbólico que carregava como partido no poder.
O relator Joaquim Barbosa, figura central do processo, falava abertamente em “um esquema gigantesco de compra de votos, conhecido por todo o Congresso”. Mas as condenações também abriram margem para críticas sobre os métodos adotados, especialmente o uso da polêmica “teoria do domínio do fato”, que responsabiliza líderes por crimes cometidos por subordinados.
Lava Jato, revanche e discurso de perseguição
Curiosamente, o mensalão acabou abrindo caminho para a Operação Lava Jato, anos depois. E foi nesse novo capítulo que o PT adotou uma postura mais agressiva, acusando parte do Judiciário de perseguição. A suspeição de Sergio Moro virou bandeira do partido, e o discurso mudou: o PT se colocou como vítima de lawfare — uma guerra jurídica.
José Dirceu, um dos pivôs do escândalo, diz até hoje que foi transformado em “bandido e corrupto do dia para a noite”. E não esconde que vê o processo como uma tentativa explícita de derrubar Lula e destruir o projeto político do PT.
Silêncio desconfortável… até hoje
Mesmo após 20 anos, dentro do PT, a palavra mensalão ainda é tratada como se fosse amaldiçoada. Nos bastidores, ninguém quer falar publicamente sobre o assunto. Quando procurada pela reportagem, a resposta oficial foi curta e direta: “O PT não vai se manifestar”.
Ainda assim, antigos protagonistas do escândalo, como Dirceu e Delúbio, já se movimentam nos bastidores para voltar à cena, inclusive com planos de disputar vagas na Câmara em 2026.
Durante o aniversário de 45 anos do PT, em fevereiro, Lula fez um aceno discreto aos aliados que estiveram no centro da crise: “O Zé Dirceu sabe o que é ser vítima de mentira. O Delúbio também sabe”. Mas, como de costume, preferiu deixar subentendido o que realmente queria dizer.
O que fica claro é que, 20 anos depois, a ferida ainda está aberta. E ninguém dentro do PT quer tocar nela.