30 dos 53 intelectuais de esquerda que apoiam bloqueio do X/Twitter ainda usam a rede, diz portal
Levantamento do Poder360 mostra que signatários de medida pró-suspensão seguem publicando normalmente na plataforma.
É de deixar qualquer um indignado. Um grupo de 53 intelectuais, acadêmicos e economistas, supostamente defensores de um bloqueio ao X/Twitter no Brasil, assinaram uma carta aberta criticando Elon Musk e a plataforma por pressionarem o governo brasileiro, que busca regular as big techs para garantir a tal “soberania digital”. Entre os signatários, estão nomes de peso como Martín Guzmán, Yanis Varoufakis e Marietje Schaake, todos clamando por uma internet mais justa e controlada. No papel, parecem grandes defensores da causa, mas a realidade escancarada pelo portal Poder360 é outra: 30 deles continuam usando a rede social como se nada tivesse acontecido. Isso mesmo, seguem lá, postando e curtindo como se fossem simples espectadores do próprio teatro que ajudaram a montar.
Esses intelectuais, que deveriam ser a ponta de lança na crítica e na coerência, mostram-se incrivelmente contraditórios. É como se estivessem pregando uma coisa da boca para fora, enquanto, por trás das cortinas, continuam a usufruir da plataforma que dizem querer ver bloqueada. Entre os que ainda navegam pelo X estão nomes renomados como Gabriel Zucman, Thomas Piketty, Julia Cagé e o professor Daron Acemoglu, todos figuras reconhecidas no cenário acadêmico e que, aparentemente, preferem a comodidade de continuar com seus perfis ativos a praticar o que assinam em cartas formais.
A ironia é palpável. Como é que se pode apoiar um bloqueio, um controle mais rígido sobre uma plataforma, e ainda assim continuar a usá-la? Fica claro que essa história de “reduzir a dependência digital de empresas estrangeiras” não parece valer tanto assim para eles, que seguem tranquilamente conectados. Enquanto isso, outros signatários como José Graziano e Marcos Dantas, por exemplo, ou estão ausentes da plataforma ou com seus perfis bloqueados para o público. Ao menos tentam manter alguma coerência.
O manifesto em si fala de um Brasil que busca autonomia tecnológica, reduzir a influência das big techs e defender a democracia contra ataques de figuras como Musk e líderes de extrema-direita. Tudo isso soa muito bonito no papel, mas ver tantos dos seus defensores não praticando o que pregam só faz dessa narrativa uma piada de mau gosto. É uma lição clara de que, muitas vezes, o discurso acadêmico e político está muito distante da prática. Enquanto a maioria de nós tenta lidar com as consequências reais dessas regulações, essas figuras continuam desfrutando da mesma plataforma que querem ver regulada ou até bloqueada.