
A Confissão do Mito: Ex-ministro Admite a Invenção dos Números sobre Agricultura Familiar
Os 70% que Nunca Existiram e a Realidade do Agronegócio Desmascarada
Um dos pilares de discursos políticos e de movimentos sociais que exaltam a agricultura familiar no Brasil foi desmontado pelo próprio criador. José Graziano da Silva, ex-ministro do Combate à Fome no governo Lula e idealizador do programa Fome Zero, admitiu que os famosos “70% dos alimentos vêm da agricultura familiar” são fruto de uma invenção, sem base estatística ou científica.
Em um seminário realizado no início de dezembro sobre pobreza rural no semiárido nordestino, Graziano fez sua confissão. “Nós inventamos esse número. Nos anos 2000, sem um censo agropecuário atualizado, decidimos usar 70% para evitar debates. Esse dado não existe em lugar algum”, revelou o ex-ministro, afirmando que tal narrativa, apesar de conveniente, não reflete a realidade atual do agronegócio ou da agricultura familiar no Brasil.
A fala de Graziano veio acompanhada de uma explicação desconcertante. Ele contou que o último censo agropecuário disponível na época era de 1970, o que levou a equipe a criar um número que “parecesse razoável”. O ex-diretor-geral da FAO reforçou que a ideia de que pequenos agricultores alimentam a maior parte da população brasileira não se sustenta diante de dados recentes, como o Censo Agropecuário de 2017, que aponta que a agricultura familiar responde por apenas 23% do valor total da produção agropecuária no país.
Sem Censo, Com Ficção
O primo do ex-ministro, Xico Graziano, engenheiro-agrônomo e ex-deputado federal, há anos desmascarava o mito. “Há duas décadas lutamos contra essa narrativa. Finalmente, a verdade veio à tona. Inventar números deslegitima a importância real da agricultura familiar, que não precisa de propaganda falsa para ser valorizada”, disse ele.
A Soja e o Agronegócio: Inimigos ou Complementos?
Em meio à autocrítica, José Graziano buscou defender o papel do agronegócio, especialmente da soja, frequentemente vilanizada em discursos políticos. “Sem a exportação de soja, não teríamos os dólares necessários para importar alimentos como o trigo. A demonização da soja é injusta”, pontuou.
Para especialistas, a dicotomia entre agricultura familiar e agronegócio é prejudicial e baseada em motivações políticas. Felippe Serigati, da Fundação Getúlio Vargas, destacou: “A agricultura familiar é essencial, mas não precisa de números inflados para ser reconhecida. Precisamos de um debate honesto e baseado em dados reais.”
Mentiras Políticas e Suas Consequências
A admissão de Graziano não é um caso isolado. O próprio presidente Lula já confessou, em 2014, que, durante viagens internacionais, usava dados fictícios para criticar a situação do Brasil, alegando que tais práticas eram comuns na política. Esse tipo de estratégia, no entanto, compromete a confiança pública e prejudica a credibilidade de iniciativas importantes.
No atual governo, a narrativa que exalta a agricultura familiar em detrimento do agronegócio ganhou força, com a divisão do Ministério da Agricultura e a recriação do Ministério do Desenvolvimento Agrário. No entanto, como evidenciado pelos fatos, é essencial que debates políticos se baseiem em dados reais, e não em mitos convenientes.
Resumo: A confissão de José Graziano expõe um problema grave: a manipulação de dados para fins políticos. Enquanto a agricultura familiar enfrenta desafios reais, o mito dos 70% ofusca sua verdadeira contribuição e prejudica debates construtivos sobre o futuro do setor agropecuário brasileiro.