Abin nega ter atrapalhado investigação da Polícia Federal contra Ramagem

Abin nega ter atrapalhado investigação da Polícia Federal contra Ramagem


No sábado (27), a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) refutou veementemente a alegação de obstrução à Justiça durante a operação da Polícia Federal (PF) em sua sede, ocorrida na quinta-feira anterior (25). De acordo com relatos da PF, inicialmente, os funcionários da Abin resistiram à concessão de acesso aos documentos requeridos, argumentando que o mandado judicial era impreciso. Posteriormente, a PF solicitou ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, uma especificação mais detalhada do mandado, incluindo uma cláusula que previa prisão em flagrante por obstrução, pedido que foi aceito.

A Abin confirmou o impasse, mas destacou que não houve obstrução da Justiça, apenas um alerta emitido pelo departamento jurídico devido à falta de detalhamento do mandado para uma situação específica. Durante a operação, os agentes da PF permaneceram nas instalações da Abin desde a manhã até tarde da noite, focando nas buscas nos arquivos do Centro de Inteligência Nacional (CIN) da Abin para encontrar documentos que confirmassem suspeitas sobre uma suposta ‘estrutura paralela’ que teria operado no órgão, produzindo dossiês sem autorização judicial.

Adicionalmente, a operação envolveu mandados de busca e apreensão contra Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin durante a administração do ex-presidente Jair Bolsonaro, que também negou todas as acusações. Os agentes da PF descobriram que ocorreu uma reunião interna convocada às pressas pelo atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, na manhã de quinta-feira. Essa reunião suscitou suspeitas entre os investigadores de que a liderança atual da Abin estaria tentando dificultar as investigações.

A Abin afirmou que a reunião convocada pelo diretor-geral estava dentro dos procedimentos normais de gerenciamento de crises. Durante o encontro, Corrêa expressou descontentamento com o rumo das investigações. Três funcionários presentes nessa reunião foram convocados para depor à PF na sexta-feira subsequente. Esse incidente reforçou a percepção da PF de que pode haver um ‘conluio’ entre a administração atual da Abin durante o governo atual e a gestão anterior durante o governo Bolsonaro, com o propósito de preservar a reputação do órgão e dificultar as investigações.

Mensagens obtidas pela PF revelaram que funcionários da Abin admitiram o uso inadequado da ferramenta FirstMile, um programa israelense secreto que permitia rastrear a localização de pessoas por meio de dados de celulares. Esse evento foi considerado de “gravidade ímpar” pelos investigadores e veio à tona após uma reportagem do jornal O Globo em março do ano anterior. Após a divulgação, a PF iniciou uma investigação e confiscou os celulares dos suspeitos.

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