
Alcolumbre cobra alto de Lula para segurar base no Senado
Senador pressiona por cargos estratégicos e promessa de fidelidade em troca de apoio contra a anistia do 8 de Janeiro
Enquanto o projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro ganha força na Câmara dos Deputados, o governo Lula aposta na promessa de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) de barrar a proposta no Senado. Mas essa aliança tem preço: o senador intensificou a pressão para abocanhar espaços-chave na estrutura federal, incluindo o comando de estatais, cargos em agências reguladoras e até a substituição de ministros.
Alcolumbre, que voltou à presidência do Senado em fevereiro, já deixou claro que deseja tirar Alexandre Silveira do Ministério de Minas e Energia. Além disso, tenta emplacar aliados em postos importantes do Banco do Brasil e nas diretorias da Aneel (energia elétrica), ANP (petróleo e gás) e ANM (mineração) — áreas atualmente sob influência de Silveira.
A disputa interna se agravou porque Alcolumbre, para se eleger presidente do Senado, fez promessas de cargos a colegas como Eduardo Braga (MDB-AM) e Otto Alencar (PSD-BA), que abriram mão de disputar o posto. Agora, esbarra na resistência de Silveira, que mesmo criticado por antigos aliados como Rodrigo Pacheco, se aproximou de Lula e da primeira-dama Janja, sendo hoje considerado um nome de confiança pessoal do presidente.
Além dos ministérios e das agências, Alcolumbre também tenta consolidar sua influência nos Correios. Após indicar Hilton Rogério Maia da Costa — ex-superintendente da Codevasf no Amapá — para um alto cargo na estatal, a pressão por uma CPI contra os Correios no Senado perdeu força. A empresa, que vive grave crise financeira, teve um prejuízo de R$ 3,2 bilhões em 2024, o maior entre todas as estatais federais.
Mesmo com esse jogo de bastidores, há desconfiança entre senadores da oposição sobre a verdadeira disposição de Alcolumbre em barrar a anistia. Alguns, como Eduardo Girão (Novo-CE), pedem mobilização popular para forçar o Senado a votar o texto, caso ele chegue à Casa. “O receio é que tudo acabe em acordões”, afirmou Girão.
Na Câmara, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, já protocolou pedido de urgência para acelerar a tramitação da proposta, com o apoio de 262 deputados. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), porém, sinalizou que só vai decidir após ouvir os líderes partidários.
Com longa trajetória de articulações nos bastidores, Alcolumbre é visto pelo Planalto como uma peça-chave para manter a base governista unida e evitar derrotas legislativas. Por isso, aliados de Lula têm repetido uma frase que resume bem a aposta feita: “Mais vale um Alcolumbre aliado na mão do que toda a bancada do União Brasil voando”.