Aliados no Palácio, suspeitos na Previdência: entidades sob investigação integram conselhos estratégicos de Lula

Aliados no Palácio, suspeitos na Previdência: entidades sob investigação integram conselhos estratégicos de Lula

Contag e Sindnapi, apontadas em esquema bilionário de descontos indevidos no INSS, têm assento privilegiado em órgãos do governo federal e influência direta em decisões estratégicas.

Organizações investigadas por fraudes que somam até R$ 6,5 bilhões nos benefícios do INSS seguem com trânsito livre no governo federal. Entidades como a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e o Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos) não apenas continuam em atividade como integram conselhos consultivos de ao menos 10 ministérios, além de terem presença confirmada em grupos ligados diretamente ao Palácio do Planalto.

Segundo apuração do Poder360, essas instituições — acusadas de aplicar descontos irregulares em aposentadorias e pensões — participam de debates sobre políticas públicas em áreas que vão da Agricultura à Secretaria-Geral da Presidência, passando pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Relações Institucionais. A CGU (Controladoria-Geral da União) identificou que essas organizações foram as mais citadas por beneficiários que afirmam nunca ter autorizado os débitos em seus contracheques.

A Contag, por exemplo, está presente em pelo menos 16 colegiados federais, incluindo o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, conhecido como “Conselhão”. Esse conselho é responsável por aconselhar o próprio presidente da República. Quem ocupa a cadeira da entidade ali é Aristides Veras dos Santos, presidente da Contag desde 2017 e aliado histórico de Lula.

Já o Sindnapi, que também aparece entre os principais suspeitos de envolvimento nas fraudes previdenciárias, está em dois conselhos federais. Ambas as organizações são alvos de investigações da CGU e da Polícia Federal, na esteira da Operação Sem Desconto, que apura o desvio de bilhões de reais em nome de aposentados e pensionistas.

A investigação revelou ainda que entre 2022 e 2024 — período que coincide com o terceiro mandato de Lula — as queixas de descontos indevidos dispararam. Durante esse tempo, representantes dessas entidades foram recebidos oficialmente em pelo menos 15 ocasiões por ministérios, incluindo o da Previdência, do Desenvolvimento Social e pelo próprio INSS.

Mesmo durante o governo Bolsonaro, a Contag já ocupava espaços em conselhos, mas com bem menos influência: eram 10 colegiados no total, oito deles ligados à Agricultura. Desde a volta do PT ao Planalto, o poder da entidade cresceu consideravelmente.

A situação levanta uma pergunta inquietante: como entidades sob suspeita de fraudar milhões de brasileiros seguem com assento garantido na formulação de políticas públicas? A presença em conselhos que moldam decisões de governo escancara a falta de critérios de controle e fiscalização sobre quem ocupa esses espaços de poder — e, pior, mostra como interesses suspeitos podem estar sentados à mesa onde se decide o destino de recursos públicos.

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