
Alta no IOF e vazamentos desgastam imagem do ministro Haddad nas redes e no Planalto
Apelidado de “Taxad”, ministro da Fazenda enfrenta críticas por medidas que aumentam tributos e geram desgaste político dentro e fora do governo.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem enfrentado uma onda de críticas intensas após o anúncio do aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que incide sobre operações de crédito, câmbio e seguro. Conhecido nas redes sociais pelo apelido pejorativo “Taxad”, Haddad já vinha sendo alvo de oposição desde 2024, principalmente por decisões que atingiram os super-ricos, como a tributação de offshores e fundos exclusivos, além da taxação das chamadas “blusinhas” — as encomendas internacionais.
Agora, as medidas ampliam seu impacto para a classe média, que sofre com os custos das viagens ao exterior, além de atingir grandes investidores, empresas e microempreendedores individuais (MEIs), o que tem causado desgaste até dentro do próprio governo, com críticas internas no Planalto.
Especialistas e analistas apontam que a equipe econômica ofuscou o anúncio da contenção de gastos, que pretendia cortar R$ 31,3 bilhões, ao revelar mais um aumento tributário. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, admitiu que o governo busca cumprir a meta de déficit zero em 2025, mas a estratégia tem um preço político.
Inicialmente, a expectativa era arrecadar R$ 20,5 bilhões com as medidas do IOF para este ano, porém, após reações negativas no mercado financeiro e pressão pública, o governo voltou atrás em parte das elevações anunciadas na noite de quinta-feira (22/5).
Na avaliação do CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro, o governo deveria focar em reduzir os custos estruturais do Estado e aumentar a eficiência da gestão pública, ao invés de aumentar impostos que pressionam diretamente as operações financeiras das empresas, especialmente aquelas que dependem de crédito rotativo e financiamentos.
Júlio César Soares, advogado tributarista, também critica a postura do governo, dizendo que o aumento do IOF reforça uma lógica antiga e pouco eficiente de arrecadação, mascarada por discursos sobre “neutralidade” e “isonomia fiscal”. Ele destaca que a equiparação das alíquotas para pessoas físicas e jurídicas não leva em conta que ambas operam em contextos muito diferentes.
Além disso, especialistas alertam que o aumento tem um efeito regressivo, penalizando proporcionalmente mais as pequenas e médias empresas, especialmente as que fazem parte do Simples Nacional. Para essas empresas, a alíquota fixa do IOF subiu de 0,38% para 0,95%. Os MEIs foram poupados desse aumento, mantendo a taxa de 0,38% aplicada às pessoas físicas.
Soares reforça que, apesar da manutenção da taxa para os MEIs e da redução do impacto para empresas do Simples, a carga tributária indireta cresce num setor já fragilizado pelo custo do crédito e pela informalidade.
As cooperativas que tomam crédito continuarão isentas do IOF em operações até R$ 100 milhões por ano. Para valores maiores, passam a ser tributadas como as demais empresas.
A reação do mercado foi imediata: o Ibovespa caiu 0,44%, fechando em 137.272 pontos, enquanto o dólar subiu 0,32%, encerrando o dia a R$ 5,66. Diante disso, o governo decidiu revogar parte das mudanças poucas horas após o anúncio.
Entre os recuos, voltou a vigorar a alíquota zero para investimentos feitos por fundos nacionais no exterior, e as remessas de pessoas físicas para investimentos no exterior continuam sendo tributadas em 1,1%, sem alterações.
O Ministério da Fazenda destacou que essas correções fazem parte de um processo de ajuste contínuo, buscando equilíbrio e respondendo às críticas da sociedade.