Alvo da PF e dono de áudio comprometedor, chefe do Dnocs segue intocado no governo Lula

Alvo da PF e dono de áudio comprometedor, chefe do Dnocs segue intocado no governo Lula

Mesmo sob suspeita de envolvimento em desvios milionários, Rafael Guimarães segue no cargo há mais de seis meses, enquanto outro colaborador foi demitido por cooperar com as investigações

Enquanto a Polícia Federal avança na Operação Overclean, o governo Lula mantém no cargo, há mais de seis meses, um nome que está no centro da tempestade: Rafael Guimarães de Carvalho, coordenador do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) na Bahia. Mesmo após ser alvo de busca e apreensão por suspeita de envolvimento em desvios de recursos públicos, ele segue firme no posto.

A operação investiga um esquema bilionário de corrupção envolvendo obras públicas financiadas com emendas parlamentares — boa parte delas vindas do chamado “orçamento secreto”. Rafael é acusado de ter participação ativa nesse sistema e aparece em gravações feitas pela PF demonstrando preocupação com a suspensão dos repasses por decisão do STF, o que pode comprometer o esquema.

Na conversa interceptada, Rafael fala com um empresário investigado e demonstra receio após o ministro do Supremo, Flávio Dino, bloquear temporariamente o pagamento de emendas. O tom da conversa revela o tamanho da dependência da autarquia em relação a essas verbas — que alimentaram contratos suspeitos somando R$ 194 milhões só na Bahia.

Apesar da gravidade, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, ao qual o Dnocs está vinculado, diz apenas que aguarda a conclusão das investigações. Enquanto isso, outro servidor, Miled Cussa Filho, que atuava na Codevasf e decidiu colaborar com as apurações, foi prontamente demitido.

Segundo a PF, entre 2018 e 2024, o grupo sob suspeita movimentou mais de R$ 1,4 bilhão. A Allpha Pavimentações, empresa ligada a dois dos investigados, recebeu mais de R$ 150 milhões em contratos com o Dnocs, sempre bancados por emendas do relator — prática que hoje é sinônimo de falta de transparência.

O áudio de Rafael, além de revelar a preocupação com a interrupção dos repasses, também confirma a dependência da regional baiana do Dnocs em relação às emendas parlamentares para tocar obras. Essas gravações foram fundamentais para que a PF solicitasse a busca e apreensão contra ele.

Enquanto os fatos se acumulam, a pergunta que fica é: por que o governo mantém em posição estratégica alguém tão diretamente envolvido em um dos maiores escândalos recentes de uso de dinheiro público?

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