
Ato na Paulista mostra que a direita ainda respira e se articula
Mesmo sem consenso sobre anistia ou candidato para 2026, bolsonarismo reuniu governadores, ensaiou alianças e mostrou que ainda tem fôlego para incomodar Lula na disputa pela reeleição
A manifestação deste domingo (6/4), na Avenida Paulista, foi mais do que um simples ato pró-anistia: foi um sinal claro de que a direita brasileira, especialmente a base bolsonarista, ainda tem força para ocupar as ruas — e para pressionar politicamente. Apesar da falta de consenso entre seus líderes, o evento serviu como uma vitrine da capacidade de mobilização do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de abrir espaço para articulações visando as eleições de 2026.
Antes de subir no trio elétrico, Bolsonaro se encontrou com sete governadores, alguns deles já de olho na disputa presidencial. A ideia nos bastidores é clara: se Bolsonaro permanecer inelegível, o apoio dele irá para quem assumir a linha de frente na defesa da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e mostrar viabilidade eleitoral contra Lula. Em troca, espera-se que esses aliados reforcem o discurso de que não houve tentativa de golpe, mas sim um protesto legítimo.
Mesmo quem não apoia Bolsonaro reconheceu: o evento mostrou que, se houver união da direita, o caminho de Lula para a reeleição será bem mais turbulento. Porém, por enquanto, essa união está mais no discurso do que na prática. Os governadores não têm domínio suficiente sobre o Congresso para fazer a anistia avançar de forma consistente. E Bolsonaro, que ainda se vê como o principal nome da direita, não está disposto a abrir mão desse protagonismo — pelo menos não tão cedo.
Há, inclusive, o temor dentro da própria base bolsonarista de que o ex-presidente perca influência se decidir apoiar outro nome. E, com isso, o plano de união pode se esfarelar. A única federação partidária que parece avançar de verdade é entre União Brasil e PP — e mesmo ela ainda está nos estágios iniciais.
Entre os sete governadores que compareceram ao ato, quatro já aparecem como potenciais candidatos ao Planalto: Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO), Romeu Zema (MG) e Ratinho Jr. (PR). Desses, Tarcísio foi o mais celebrado por Bolsonaro, recebendo elogios públicos do ex-presidente e sendo chamado por Michelle Bolsonaro de “melhor ministro do governo”. Durante seu discurso, ele chegou até a puxar um “volta Bolsonaro”, indicando que ainda vê o ex-chefe como peça central da direita.
Mas se Bolsonaro quiser mesmo fazer de Tarcísio seu herdeiro político, precisará agir logo. O governador paulista teria que organizar sua sucessão no estado ainda este ano — uma tarefa nada simples diante da quantidade de nomes disputando espaço no campo conservador de São Paulo.
Por ora, o evento serviu para manter os canais de diálogo abertos, testar o termômetro das ruas e mostrar que o bolsonarismo segue vivo. Mas o caminho até 2026 ainda está cheio de incertezas — tanto para a anistia quanto para a definição de quem será o rosto da direita na próxima corrida presidencial.