
Auxiliares de Lula, Haddad e Rui Costa engordam salários com cargos em estatal “imobiliária” do DF
Com jetons de R$ 10,8 mil mensais por reuniões esporádicas, aliados próximos ao Planalto mais que dobram seus vencimentos na Terracap.
Desde julho de 2023, auxiliares de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil) garantiram um reforço generoso em seus salários: assentos no conselho de administração da Terracap, empresa pública do Distrito Federal que funciona como uma grande “imobiliária” estatal em Brasília.
Apenas por participarem de reuniões mensais, cada conselheiro recebe um extra de R$ 10,8 mil – um valor que supera o pago por gigantes como Banco do Brasil, Caixa, BNDES e até subsidiárias da Petrobras. Em comparação, o BNDES paga R$ 7,8 mil aos seus conselheiros.
Procurado, o Palácio do Planalto afirmou que todas as nomeações seguem a Lei das Estatais e passam por avaliação dos comitês internos das empresas. Já a Terracap diz que seus valores foram definidos em assembleia geral e seguem as normas legais.
Entre os beneficiados, está Marco Aurélio Santana Ribeiro, o “Marcola”, braço direito de Lula. Conhecido como o homem que guarda o único telefone pelo qual o presidente fala diretamente com políticos, Marcola viu seu salário de R$ 18,8 mil saltar para R$ 29,7 mil com a nova função – um aumento de 57%.
Outro que se deu bem foi Laio Correia Morais, chefe de gabinete de Haddad. Com o cargo na Terracap e também no conselho fiscal da EMGEA (Empresa Gestora de Ativos), Laio mais que dobrou seus rendimentos, que agora chegam a R$ 30,7 mil mensais.
A lista de conselheiros ainda inclui Talita Nobre Pessoa, chefe de gabinete de Rui Costa, e Maurício Muniz Barretto de Carvalho, subsecretário da Casa Civil. Talita recebe o mesmo que Marcola, enquanto Barretto teve um salto de 96% no salário, totalizando R$ 22 mil.
A Terracap é responsável pela gestão e venda de terras públicas em Brasília e atua em projetos como a expansão de edifícios residenciais no Noroeste, uma das áreas nobres do Plano Piloto. Os lucros vêm principalmente da comercialização de lotes e da regularização fundiária.
Criada em 1973, a Terracap tem 49% de suas ações nas mãos da União, o que dá ao governo federal o poder de indicar quatro nomes para seu conselho, via Ministério da Fazenda. Foi o secretário-executivo Dario Durigan quem assinou o despacho que nomeou os aliados petistas.
Em meio a esse cenário, chama atenção o fato de que, entre os nomeados, apenas Maurício Barretto apresenta experiência diretamente ligada à área: ele coordenou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e foi ministro da Secretaria de Portos no governo Dilma Rousseff.
Os demais têm trajetórias que transitam mais pela política e comunicação: Marcola é cientista político e já coordenou as Caravanas “Lula pelo Brasil”; Laio é advogado e assessor de Haddad desde seus tempos de prefeito de São Paulo; Talita é jornalista e antiga assessora de Rui Costa na Bahia.
Enquanto isso, os brasileiros acompanham mais um episódio em que os cargos públicos parecem servir para fortalecer laços políticos — e folhas de pagamento.