
Bahia na contramão da lógica: Governo nomeia ex-presidiário por homicídio para direção de presídio e recua após repercussão
Caso escancara o caos na gestão penitenciária e o desprezo pelos princípios básicos da moralidade pública
Em mais um episódio digno de perplexidade nacional, a Secretaria de Administração Penitenciária da Bahia (Seap) resolveu nomear um ex-detento por homicídio qualificado para um cargo de direção justamente… dentro de um presídio. Isso mesmo. Sátiro Sousa Cerqueira Júnior, de 40 anos, preso em 2019 por matar por motivo fútil, foi indicado para ser diretor-adjunto do Conjunto Penal de Salvador, com salário superior a R$ 11 mil. Um verdadeiro tapa na cara da população.
A função de Sátiro seria nada menos que ajudar na gestão da unidade prisional, colaborando para manter a ordem, a segurança e a disciplina do presídio. Sim, alguém que esteve do outro lado das grades, com processo de homicídio ainda em aberto, foi considerado pelo governo da Bahia como uma boa escolha para comandar o sistema prisional.
Diante da enxurrada de críticas e da indignação geral, a Seap voltou atrás e publicou nesta quinta-feira (5) no Diário Oficial do Estado a revogação da nomeação, que havia sido feita no fim de maio. A justificativa legal até pode encontrar algum respiro técnico, já que Sátiro responde em liberdade e não tem condenação definitiva. Mas a legalidade não é sinônimo de moralidade. E, nesse caso, o absurdo falou mais alto do que qualquer brecha jurídica.
A nomeação despertou revolta em políticos e agentes da segurança pública. O deputado estadual Leandro de Jesus (PL) classificou o ato como “insano” e prometeu tomar providências legais. O fato ocorre num momento em que a gestão prisional da Bahia está em frangalhos.
Para se ter ideia do caos, a Força Penal Nacional foi convocada para atuar durante 30 dias no Conjunto Penal de Eunápolis, onde recentemente um funcionário terceirizado foi vítima de uma emboscada. As investigações apontam que o ataque teria como alvo o diretor da unidade, Jorge Magno Alves, e foi orquestrado por Ednaldo Pereira Souza, o “Dada”, líder da facção criminosa Primeiro Comando de Eunápolis, aliada do Comando Vermelho.
Esse caso lamentável não é um erro isolado: é o retrato de um sistema que perdeu a noção do razoável. Nomear um homem com histórico de homicídio para cuidar de um presídio é mais do que imprudência. É um desrespeito aos servidores, à população e ao mínimo senso de responsabilidade pública. A Bahia não precisa de mais escândalos – precisa de gestão, seriedade e segurança. O povo já está cansado de pagar a conta dessa farra institucional.