Bolsonaro nega plano golpista e diz ter desistido de “ação constitucional” no fim do mandato

Bolsonaro nega plano golpista e diz ter desistido de “ação constitucional” no fim do mandato

Durante depoimento ao STF, ex-presidente diz que encontros com ministros foram resposta a decisões do TSE e nega ter levado adiante qualquer articulação por golpe ou estado de sítio.

Em depoimento prestado nesta terça-feira (10) ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro negou de forma veemente qualquer envolvimento com um suposto plano para impedir a posse de Lula em 2023. Ele classificou as reuniões ministeriais da época como reações a medidas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e afirmou ter abandonado “qualquer possibilidade de uma ação constitucional” para resistir ao fim de seu governo.

Sendo o sexto réu a ser interrogado na Ação Penal 2668, que investiga uma suposta conspiração envolvendo militares e figuras do alto escalão do governo, Bolsonaro tentou afastar de si a imagem de articulador de um golpe, refutando a existência de uma minuta golpista e qualquer ação fora dos limites da Constituição.

“Refuto falar em minuta de golpe ou em qualquer atitude que não esteja prevista na Constituição”, afirmou o ex-presidente. Segundo ele, as reuniões com seus ministros foram motivadas por decisões do TSE — especialmente a multa de R$ 22 milhões aplicada durante a campanha de 2022, que classificou como um duro golpe em sua equipe.

Reuniões: Defesa ou Ataque?

Bolsonaro disse que os encontros buscavam soluções legais e estavam focados em garantir a ordem diante de manifestações populares, como as que ocorriam em frente aos quartéis. “Chegamos a discutir o uso da GLO [Garantia da Lei e da Ordem] dentro do que está previsto na Constituição”, afirmou.

Em outro trecho, declarou que “qualquer possibilidade de ação constitucional foi deixada de lado”, tentando reforçar que o governo, ainda que tenha discutido cenários extraordinários, não executou nada fora da legalidade.

Contradições e a polêmica da “minuta”

Apesar de negar a existência de um plano de golpe, Bolsonaro acabou se contradizendo ao comentar a acusação do tenente-coronel Mauro Cid — que afirmou que o ex-presidente teria revisado uma suposta minuta golpista. Bolsonaro minimizou: “Isso começou sem força e não foi adiante”, admitindo indiretamente que houve algum esboço de documento, mas que teria sido arquivado.

Sobre o estado de sítio, também admitiu que chegou a ser debatido, mas não passou de hipótese: “Nenhum conselho foi convocado. Nada foi iniciado. Só conversa.”

“As ilações corriam soltas”

Num tom de crítica velada à imprensa e às especulações públicas, Bolsonaro afirmou que “as ilações corriam soltas” e tentou se isentar da responsabilidade sobre a interpretação do que ocorria nos bastidores de seu governo nos últimos dias de mandato.

Palanque em pleno STF

Antes mesmo de prestar depoimento, Bolsonaro questionou a condução da investigação: “Sou eu que tenho que provar que sou inocente, ou são eles que têm que provar que sou culpado?”, ironizou.

Ele também sinalizou que pretendia transformar o interrogatório em palco político: “Se me deixarem falar livremente, vai durar horas.” Sua defesa havia preparado vídeos como prova de sua inocência — inclusive com declarações antigas de Flávio Dino criticando urnas eletrônicas —, mas o ministro Alexandre de Moraes barrou a exibição, alegando que a fase do interrogatório não é o momento adequado para novas provas.

A fase mais tensa do processo

A oitiva de Bolsonaro marca um dos pontos mais sensíveis da investigação. Na véspera, foram ouvidos o delator Mauro Cid e o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem. Nesta terça, antes de Bolsonaro, prestaram depoimentos o almirante Garnier Santos, Anderson Torres e o general Augusto Heleno. Cada um seguiu uma estratégia própria, entre o silêncio, a negação e o confronto com testemunhas.

O depoimento do ex-presidente, porém, é visto como o mais simbólico e decisivo até aqui, já que, segundo a PGR, ele seria o elo central de uma tentativa de ruptura institucional abortada antes de sua efetivação.

Compartilhe nas suas redes sociais
Categorias