Boulos embarca com Lula para o Uruguai enquanto cresce expectativa por nomeação ministerial

Boulos embarca com Lula para o Uruguai enquanto cresce expectativa por nomeação ministerial

Cotado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, deputado do PSOL viaja ao lado do presidente ao velório de Mujica. Nomeação pode custar futuro político e racha no partido.

Enquanto o governo Lula ensaia mais uma dança das cadeiras em seus ministérios, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) embarcou nesta quinta-feira (15) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Janja para o Uruguai, onde participaram do velório do ex-presidente José “Pepe” Mujica. Mas a viagem, carregada de simbolismo político, tem mais peso do que uma simples homenagem: Boulos está prestes a ser anunciado como novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, substituindo Márcio Macêdo.

A movimentação nos bastidores já não é segredo para ninguém no Planalto. Lula quer alguém com trânsito direto com os movimentos sociais, e quem melhor do que o ex-líder do MTST — cuja história política é marcada por ocupações e mobilizações de base? A aposta do presidente é clara: reforçar a conexão com as ruas antes da corrida eleitoral de 2026. Mas a conta dessa nomeação promete vir alta — e não será o governo que pagará.

Se aceitar o convite, Boulos terá que abrir mão de disputar as eleições municipais em 2026, um sacrifício que já está criando rachaduras dentro do PSOL. O parlamentar foi o mais votado em São Paulo nas eleições de 2022, com mais de um milhão de votos, e sua candidatura era tida como essencial para fortalecer o partido e ajudar a driblar a cláusula de barreira — que ameaça partidos pequenos com menos representação.

Levá-lo ao ministério, portanto, pode ser vantajoso para Lula, mas fragiliza a base política do PSOL, que fica sem seu principal trunfo eleitoral. Em outras palavras: o governo petista tenta se blindar, enquanto empurra aliados para o abismo político.

Na comitiva presidencial também estão nomes como o atual ministro Márcio Macêdo — que deve sair do cargo —, o senador Humberto Costa (PT), o presidente do BNDES Aloizio Mercadante e a deputada Jandira Feghali (PCdoB). É o retrato de um governo que, enquanto presta homenagens, reorganiza peças com foco em sobrevivência política.

Se Boulos aceitar o posto, deixará de ser alternativa eleitoral para virar escudo de um governo que tenta se reconectar com os movimentos de onde surgiu — mas que, no poder, prefere acomodar os seus e enfraquecer os aliados. O enterro de Mujica pode ser simbólico demais para a ocasião: ali pode ter começado também o sepultamento da autonomia política do PSOL frente ao petismo.

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