
Brasil Fica de Fora de Resgate de Opositores de Maduro em Caracas
Mesmo sob custódia brasileira, operação que levou cinco asilados da embaixada argentina à liberdade foi articulada sem a participação do governo Lula
Apesar de estar há nove meses sob a responsabilidade do Brasil, a Embaixada da Argentina em Caracas foi palco de uma operação de resgate de cinco opositores do regime de Nicolás Maduro sem qualquer envolvimento direto do governo brasileiro. A ação, revelada pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, levou os asilados aos Estados Unidos após mais de um ano confinados na sede diplomática.

O Itamaraty só soube da retirada dos venezuelanos — ligados à líder opositora María Corina Machado — após o anúncio oficial norte-americano. A operação, descrita como “precisa”, foi noticiada também pelo site Venezuela News, alinhado ao chavismo, que atribuiu o desfecho a intensas negociações entre o governo de Maduro e atores internacionais de alto escalão.
Desde agosto de 2024, quando o presidente argentino Javier Milei rompeu com Maduro, o Brasil assumiu a custódia da representação argentina na Venezuela. Apesar das repetidas tentativas diplomáticas para obter salvo-condutos para os asilados, os pedidos brasileiros nunca foram atendidos. Segundo fontes do Itamaraty, a embaixada era monitorada, mas sem diplomatas no local. “Nossa função era garantir a integridade física dos asilados, não executar resgates”, afirmou um diplomata.
O episódio causou incômodo entre os representantes brasileiros, que interpretaram a ausência de diálogo prévio como um gesto unilateral de Maduro. Em nota oficial, o Itamaraty afirmou que buscou por mais de um ano uma solução diplomática e humanitária, incluindo a oferta de transporte aéreo para os refugiados. A crise durou mais de 400 dias e foi marcada por cortes frequentes de água e energia na embaixada.
María Corina Machado comemorou o resgate em uma publicação nas redes sociais, classificando a operação como “épica” e homenageando os “cinco heróis da Venezuela”.
Originalmente, seis opositores buscaram refúgio na embaixada. Um deles, Fernando Martínez Mottola, deixou o local em dezembro de 2024 após acordo com as autoridades venezuelanas. Ele faleceu em fevereiro por complicações de saúde.
O presidente Milei agradeceu aos Estados Unidos pela operação e exaltou a proteção oferecida pela Argentina, sem mencionar o papel do Brasil na custódia dos asilados. A Casa Rosada destacou o “compromisso com a segurança e o bem-estar” dos opositores.
O momento da retirada coincide com tensões diplomáticas envolvendo a deportação de mais de 200 imigrantes venezuelanos dos EUA para o temido presídio Cecot, em El Salvador. Maduro pediu a libertação imediata dessas pessoas, incluindo o retorno de uma criança separada dos pais no processo.
Enquanto isso, o governo Lula manteve sua linha diplomática cautelosa: não reconheceu a reeleição de Maduro em 2024 por falta de transparência no pleito, mas tampouco rompeu relações com Caracas, buscando preservar os canais de diálogo com o regime.