“Caça-noia” no Jardim Tremembé: PCC ameaça punir agressões a dependentes químicos

“Caça-noia” no Jardim Tremembé: PCC ameaça punir agressões a dependentes químicos

Traficantes reagem a ataques organizados por moradores contra usuários de drogas na zona norte de São Paulo.

Na zona norte de São Paulo, o Jardim Tremembé tornou-se palco de uma intensa tensão entre moradores e traficantes. Após episódios de agressão a dependentes químicos na última semana, integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) declararam que não tolerarão os ataques e ameaçaram punir os responsáveis, conhecidos como “caça-noia”.

A origem do conflito

Há cerca de dez dias, usuários de drogas começaram a frequentar as ruas do bairro, gerando um desconforto entre os moradores. Enquanto alguns acreditam que essas pessoas foram trazidas por vans de outras regiões, outros sugerem que a migração ocorreu após mudanças na venda de drogas em bairros da zona leste.

Com a chegada dos dependentes, moradores organizaram grupos pelo WhatsApp para tentar expulsá-los com violência. Mensagens compartilhadas convocavam ações como a formação de grupos em motos para “caçar” os usuários.

Na última semana, cerca de 80 moradores percorreram as ruas agredindo dependentes químicos com socos, chutes e pedaços de pau. As ações foram registradas em vídeos divulgados nas redes sociais, onde vozes comemoravam o feito e mencionavam a suposta conivência da polícia local.

Reação do PCC

A resposta do PCC foi imediata. Traficantes, que consideram os dependentes químicos seus “clientes”, afirmaram que qualquer novo episódio de agressão será severamente punido.

“Não vai morrer, mas vai apanhar. Quem bater nos nossos clientes vai levar um cacete”, declarou um integrante da facção em conversa presenciada por uma equipe de reportagem. Alguns dos responsáveis pelas agressões já teriam sido identificados e levados para o chamado “tribunal do crime”.

Lei do crime e orientação dos traficantes

Traficantes da região instalaram uma faixa próxima a pontos de venda de drogas com os dizeres: “Sujeito a cacete. Se for pego roubando, será cobrado à altura.” Segundo eles, os ataques dos motoqueiros foram injustificados e baseados em rumores infundados de que os dependentes estariam roubando e atacando estabelecimentos comerciais.

“Cada um inventa uma história e aumenta. A maioria só quer usar droga e pedir dinheiro. É melhor isso do que roubar”, argumentou um dos traficantes.

Insegurança entre os moradores

A chegada dos dependentes gerou medo e insegurança nos moradores locais. “Eu nunca tinha visto algo assim aqui no bairro. Eles andam em grupos grandes. É triste ver pessoas tão jovens perdidas nas drogas, mas a sensação de insegurança é muito grande”, relatou Ivaldo Batista, residente da região.

A dispersão da Cracolândia

Os eventos em Tremembé refletem um problema maior. Durante 2024, a dispersão de dependentes químicos do centro da Cracolândia gerou novos focos de concentração em outras áreas da cidade, incluindo o Jardim Tremembé. A instalação de grades no epicentro da Cracolândia no centro de São Paulo intensificou a migração desses grupos para outros bairros.

A situação segue em investigação pela Prefeitura de São Paulo, que afirmou não compactuar com qualquer prática que estimule o deslocamento forçado de dependentes para outras regiões.

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