
Carro oficial do TJSP é flagrado levando torcedor uniformizado ao Morumbi
Veículo exclusivo para uso de desembargadores é visto chegando ao estádio com passageiro vestido com camisa do São Paulo; tribunal se cala sobre identidade e diz que apura o caso em sigilo.
Na última quinta-feira (10), pouco antes do jogo entre São Paulo e Alianza Lima, um carro preto com placa oficial do Tribunal de Justiça de São Paulo, a TJ-081, foi flagrado abrindo caminho em meio à torcida, nos arredores do Estádio do Morumbi. Eram 20h36 quando o veículo, com sua placa facilmente reconhecível, fez torcedores abrirem passagem — alguns chegaram a brincar: “Olha o juiz aí!”, gritando em meio à movimentação típica de pré-jogo da Libertadores.
Mas o que chamou mesmo a atenção foi quem estava dentro do carro: no banco do passageiro, um homem vestia o tradicional uniforme número 1 do São Paulo Futebol Clube — aquele branco com listras vermelha e preta, usado em campo. Se era um juiz ou desembargador, tudo bem estar em um carro oficial. Mas usar a camisa do time e ser levado ao estádio num veículo custeado com dinheiro público? Aí já começa a cheirar a abuso.
A reportagem tentou descobrir quem era o torcedor uniformizado, mas o TJSP se recusou a informar a identidade. Limitou-se a dizer que “o uso dos carros oficiais é disciplinado por portarias” e que apenas desembargadores e juízes de segundo grau podem utilizar esse tipo de transporte, e ainda assim, somente em funções específicas, como ir ao gabinete ou às sessões de julgamento.
O tribunal declarou que, se houver qualquer desvio dessas regras, isso será apurado “pelas vias administrativas próprias”. Só que, até agora, o nome do passageiro segue em sigilo — e a investigação, como tantas outras envolvendo autoridades, caminha nos bastidores, longe dos olhos do público.
A situação escancara mais um episódio em que a estrutura pública parece ser usada como privilégio particular. Enquanto o cidadão comum pega transporte lotado ou enfrenta trânsito para ver seu time, alguém com boas conexões aparentemente tem direito até a motorista e carro oficial — com direito a camiseta do clube e tudo. E depois ainda dizem que todos são iguais perante a lei.