Cercado pela pressão da anistia, Moraes busca apoio político e suaviza discurso

Cercado pela pressão da anistia, Moraes busca apoio político e suaviza discurso

Ministro se aproxima de parlamentares com jantares, visitas e decisões mais brandas, em meio ao cerco da direita e à tramitação de projeto que prevê perdão aos suposto golpistas do 8 de Janeiro

Com o cerco da direita apertando e o movimento pela anistia ganhando corpo no Congresso, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), vem intensificando contatos com a classe política e adotando um tom mais conciliador. Os sinais dessa aproximação aparecem em jantares estratégicos, visitas ao Legislativo e decisões recentes que, para muitos, indicam uma flexibilização no rigor aplicado aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

A movimentação é lida por parlamentares e integrantes do próprio STF como uma tentativa de manter o apoio necessário para enfrentar o desgaste provocado pela ofensiva política de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que seguem empenhados em aprovar um projeto de lei que perdoa os condenados pelos atos antidemocráticos.

Três semanas atrás, Moraes recebeu, em seu apartamento em Brasília, os principais nomes dos Três Poderes para um jantar em homenagem ao senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Estavam presentes, entre outros, os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), além do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), ministros do STF, membros da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da Polícia Federal (PF). O gesto foi visto como uma forma de estreitar laços e reforçar pontes institucionais num momento politicamente delicado.

Outra demonstração de afago à política veio no dia 1º de abril, quando Moraes apareceu de surpresa em um evento no Congresso para o lançamento de um livro organizado por Pacheco. No local, foi recebido calorosamente por parlamentares de diversos partidos, sinal de que sua figura ainda desperta respeito — mesmo entre vozes que hoje pedem sua cabeça.

Nos bastidores, aliados relatam que o ministro tem reforçado seu perfil conciliador. E isso não é exatamente novo. Moraes sempre teve trânsito na política: foi indicado ao STF por Michel Temer (MDB), com quem trabalhou como ministro da Justiça, e antes disso passou por cargos nos governos de Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab em São Paulo. “Ele sempre foi do diálogo, especialmente com a classe política”, lembrou o próprio Temer, em entrevista ao Globo.

Ao mesmo tempo, Moraes se esforça para manter o apoio dentro do STF. Apesar de eventuais divergências internas, especialmente em julgamentos dos casos ligados ao 8 de Janeiro, seus colegas têm demonstrado apoio constante. As decisões unânimes da Primeira Turma do Supremo, que julga esses processos, são exemplo disso.

Enquanto isso, o PL de Bolsonaro luta, no Congresso, as ações que envolvem o ex-presidente e seus aliados, como o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ressaltando que ele goza de foro privilegiado. Em meio a esse cabo de guerra jurídico-político, Moraes parece redesenhar sua atuação: menos confrontação direta, mais construção de bastidores. Tudo para não ser pego sozinho no epicentro de uma tempestade institucional.

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