
Cercados pela Justiça: STF interroga aliados de Bolsonaro sobre trama golpista
Tarcísio, Pazuello, Ciro Nogueira e outros pesos-pesados do bolsonarismo prestam depoimento em investigação que apura tentativa de golpe de Estado
O cerco está fechando. O Supremo Tribunal Federal (STF) começa nesta sexta-feira (30) e segue até a próxima segunda (2) a ouvir as testemunhas de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que responde por liderar uma tentativa de golpe para se manter no poder após a derrota nas eleições de 2022.
Ao todo, a defesa do ex-presidente listou 11 nomes para prestar depoimento nas audiências virtuais comandadas pelo ministro Alexandre de Moraes. No entanto, Bolsonaro ainda pode, a qualquer momento, desistir da oitiva de alguma dessas testemunhas.
Entre os convocados estão figuras de peso do antigo governo, como o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); o senador e ex-ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI); o deputado federal e ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello (PL-RJ); além do ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, e do senador e ex-ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. O ex-secretário-executivo da Casa Civil, Jonathas Nery, também integra a lista.
E não para por aí. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também será ouvido nesta sexta. Ele, no entanto, aparece como testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres.
Curiosamente, nenhuma dessas testemunhas foi citada diretamente na denúncia formal apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que levou ao processo criminal contra o chamado “núcleo duro” da tentativa de golpe — denúncia essa que foi aceita de forma unânime pela Primeira Turma do STF no dia 26 de março.
Porém, o nome de Valdemar Costa Neto não passa despercebido no relatório da Polícia Federal, entregue à PGR em novembro. Ele aparece nada menos que 38 vezes nas mais de 800 páginas do documento. Ainda assim, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, decidiu não incluí-lo na denúncia, alegando falta de provas de que Valdemar sabia que o famoso relatório do Instituto Voto Legal — aquele que questionava sem fundamento o funcionamento das urnas — tinha sido manipulado. Esse documento, aliás, foi a base da tentativa do PL de anular votos do segundo turno.
Outro personagem curioso desse enredo é o advogado Amauri Feres Saad. Ele agora aparece como testemunha de defesa de Bolsonaro, embora, segundo a própria Polícia Federal, tenha ajudado Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro, a redigir a famigerada “minuta do golpe”. Mesmo assim, Saad sequer foi citado na denúncia da PGR.
Nesta sexta-feira, também vão depor três parlamentares que fazem parte da lista de testemunhas de defesa de Anderson Torres: os senadores Esperidião Amin (PP-SC) e Eduardo Girão (Novo-CE), além do deputado federal Ubiratan Sanderson (PL-RS).
Por determinação do STF, as audiências não estão sendo transmitidas ao público. Apenas jornalistas credenciados e advogados das defesas acompanham tudo de perto, dentro da própria Corte.
Vale lembrar que os depoimentos começaram no último dia 19 e já trouxeram revelações bombásticas. O general da reserva Marco Antônio Freire Gomes, que comandava o Exército na época, confirmou a existência da tal “minuta do golpe”. Já Carlos Baptista Junior, ex-comandante da Aeronáutica, disse que o então chefe da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, chegou a colocar as tropas à disposição de Bolsonaro — um fato que escancarou até onde essa trama estava disposta a ir.
O roteiro dessa história, que mais parece série de suspense político, segue em andamento. E os próximos capítulos prometem.