
Confusão com IOF balança dólar e deixa Ibovespa sem rumo
Governo volta atrás após reação negativa do mercado e investidores ficam no escuro sobre os próximos passos
O mercado financeiro brasileiro viveu um dia daqueles, cheio de sobe e desce e com muita tensão no ar. Tudo começou com o anúncio — na verdade, um vazamento — de que o governo aumentaria as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A reação foi tão negativa que, poucas horas depois, a equipe econômica se viu obrigada a dar um passo atrás.
Por volta das 16h15 desta sexta-feira (23), o dólar recuava 0,22%, cotado a R$ 5,6490, depois de ter batido R$ 5,7262 no auge da confusão. O Ibovespa, que chegou a despencar 1,66%, tentava se equilibrar com leve alta de 0,11%, aos 137.412 pontos.
A novela do IOF começou ainda na quinta-feira, quando, pouco antes das 15h, vazou a informação de que o imposto subiria — uma tentativa do governo de aumentar a arrecadação em meio às medidas de corte de gastos que seriam anunciadas logo depois.
Na coletiva, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deixou claro que não gostou nem um pouco do vazamento. Disse que só falaria mais sobre o tema às 17h. Quando esse horário chegou, o governo detalhou quais operações seriam afetadas. Mas, no fim da noite, veio a meia-volta: parte do aumento foi cancelada, sob risco de travar completamente o mercado de fundos de investimento no país.
O recuo foi decidido às pressas, em uma reunião emergencial no Palácio do Planalto. Segundo fontes, até o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, se posicionou contra o aumento do imposto.
🔍 O que ficou decidido:
A alíquota de IOF para aplicações de fundos brasileiros no exterior, que subiria para 3,5%, vai continuar em zero. Já as remessas para investimentos no exterior seguem com o imposto de 1,1%, sem mudanças.
A repercussão no mercado foi imediata. Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, o episódio deixou claro que o governo ainda resiste a fazer um ajuste fiscal de verdade, pelo lado dos gastos. “Faltou coesão, ficou feio”, disparou.
A fintech Nomad, que oferece investimentos no exterior, também não poupou críticas. “O aumento do IOF pesa sobre toda a economia. É uma tentativa de resposta para uma situação fiscal que só se agrava, com impacto direto na inflação, no câmbio e nas perspectivas de crescimento”, afirmou a empresa em nota.
📈 Mercado tenta reagir, mas clima segue pesado:
No setor bancário, que começou o dia afundando, algumas ações até conseguiram virar para o azul. Por volta das 15h, Itaú subia 0,46%, e Bradesco PN avançava 1,17%. Já o BTG, que chegou a cair mais de 2%, ainda recuava 0,56%. O Banco do Brasil foi exceção, acumulando queda de 2%.
O varejo também ficou no vermelho: Magazine Luiza derretia 4,86%, Assaí recuava 2,73% e Azzas afundava 6,21%.
Do lado positivo, Raízen disparava 7,5%, embalada por uma expectativa positiva no setor, e a Braskem subia 5,51%, após surgir uma possível oferta de compra feita por Nelson Tanure.