Correios em apuros: estatal tenta driblar rombo de R$ 2,6 bilhões com cortes drásticos e aposta em marketplace

Correios em apuros: estatal tenta driblar rombo de R$ 2,6 bilhões com cortes drásticos e aposta em marketplace

Suspensão de férias, redução de jornada e retorno ao presencial são algumas das medidas para conter a crise. Ao mesmo tempo, empresa investe em novas frentes de negócio para sobreviver ao colapso.

Os Correios estão enfrentando uma das piores crises financeiras de sua história. Em meio a um prejuízo bilionário que já consome metade do déficit de todas as estatais brasileiras, a empresa tenta conter o sangramento com um pacote de austeridade que inclui desde a suspensão temporária de férias até a redução de jornadas de trabalho e corte de gastos na sede administrativa. O plano, ao qual a IstoÉ Dinheiro teve acesso, projeta uma economia de R$ 1,5 bilhão — valor que não será suficiente para reverter o prejuízo, mas que ao menos aliviaria parte da pressão.

Entre as medidas propostas, estão:

  • Prorrogação do Programa de Desligamento Voluntário (PDV);
  • Redução de carga horária com diminuição proporcional dos salários em setores administrativos;
  • Transferência temporária de carteiros e atendentes para centros de triagem;
  • Férias suspensas até janeiro de 2026;
  • Corte de 20% nas funções da sede dos Correios;
  • Retorno ao trabalho presencial a partir de 23 de junho;
  • Reformulação dos planos de saúde com previsão de economia de 30%.

O documento também menciona outras iniciativas em fase de preparação, com foco em aumentar a eficiência e reduzir custos operacionais em até 12%. Parte do plano envolve ainda a venda de imóveis que não estão sendo utilizados, revisão de contratos e parcerias com o banco dos BRICS (New Development Bank – NDB), que deve injetar recursos para ajudar na retomada da estatal.

Apesar do esforço, a situação da empresa é crítica. Um ofício interno de 2024 já alertava para o risco de insolvência, caso medidas mais firmes não fossem tomadas. Entre janeiro e agosto do ano passado, a estatal perdeu quase R$ 1,81 bilhão em caixa. E embora uma falência formal não esteja no radar — já que se trata de uma estatal —, um eventual colapso obrigaria o Tesouro Nacional a intervir, assumindo as dívidas e promovendo um possível “resgate” financeiro.

Mudança de rota: dos serviços postais ao e-commerce

Para tentar virar o jogo, os Correios também estão mirando novos caminhos para reforçar a arrecadação. A estatal quer deixar de ser apenas uma empresa de entregas e está investindo em áreas como logística, soluções para empresas e até na criação de seu próprio marketplace — um tipo de “Mercado Livre dos Correios”.

Segundo o presidente da empresa, Fabiano Silva dos Santos, já existem conversas avançadas com grandes redes varejistas, que devem oferecer seus produtos na futura plataforma digital. A ideia é aproveitar a presença dos Correios em todos os municípios do país para democratizar o acesso ao comércio eletrônico.

“Queremos dar mais acesso à população. Hoje, apenas cerca de 25% do comércio no Brasil é feito online. Com a nossa capilaridade, podemos mudar isso”, afirmou Fabiano em entrevista no início do ano.

Queda de receita e salto nos gastos

Mesmo com todas essas iniciativas, o cenário financeiro continua desafiador. Em 2024, os Correios amargaram um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, um salto impressionante se comparado aos R$ 597 milhões negativos registrados em 2023. Ou seja, o buraco quadruplicou em apenas um ano.

Grande parte desse rombo foi impulsionada por um aumento de quase 8% nos gastos — que chegaram a R$ 24 bilhões — e por investimentos que somaram mais de R$ 830 milhões. Ao mesmo tempo, a receita líquida da estatal caiu levemente, de R$ 21,6 bilhões para R$ 21,4 bilhões.

Além disso, a chamada “taxa das blusinhas” — que passou a taxar compras internacionais de baixo valor — também prejudicou a empresa, já que reduziu significativamente o número de encomendas vindas de fora do país, uma das fontes mais lucrativas de receita para os Correios.

Atualmente, 85% das unidades da empresa operam no vermelho, mas a estatal garante que segue presente nos 5.567 municípios brasileiros, mantendo preços populares — algo que, segundo a gestão, é parte da missão pública da instituição.

Com cortes pesados, novos modelos de negócio e a esperança de que a diversificação traga resultados, os Correios lutam contra o tempo para evitar que a carta final de sua história seja assinada pelo Tesouro.

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