
Cracolândia esvaziada: Prefeitura comemora, mas denúncias apontam violência nas abordagens
Vice-prefeito de SP exalta ação da GCM e redução do “fluxo” de usuários, enquanto ONG relata agressões e dispersão forçada. Situação reacende debate sobre políticas públicas na região central.
O vice-prefeito de São Paulo, Coronel Mello Araújo, foi às redes sociais nesta terça-feira (13) para celebrar o que chamou de “redução do fluxo” de pessoas em situação de dependência química na Cracolândia, no centro da capital. Em publicações no Instagram, ele elogiou a atuação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e outras forças de segurança, dizendo que “a imprensa está inconformada porque não há dependentes químicos” por lá.
Ao longo dos últimos dias, Mello Araújo divulgou vídeos de abordagens feitas por ele mesmo a usuários de drogas. Já o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, também se pronunciou comemorando a interrupção de pontos de venda de entorpecentes em pensões e hotéis da região. Para ele, a Cracolândia perdeu “atratividade” para o crime porque “a droga parou de chegar”.
Apesar do tom comemorativo da gestão municipal, a ausência repentina de usuários na região acendeu alertas. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) declarou estar surpreso com o “sumiço” do fluxo e disse ainda estar tentando entender o que aconteceu.
Enquanto isso, a ONG Craco Resiste, que acompanha de perto a situação dos usuários, afirma que a dispersão não se deu de forma espontânea. Segundo relatos coletados por meio de projetos com universidades como USP e Unifesp, a GCM teria intensificado a violência nas abordagens, com aumento no uso de força física, spray de pimenta e até confisco de pertences pessoais como roupas e dinheiro. A ONG afirma que há relatos de agressões no rosto e cabeça, numa escalada de truculência contra pessoas já em extrema vulnerabilidade.
A prefeitura chegou a erguer um muro de 40 metros ao redor da área onde o fluxo se concentrava, na Rua dos Protestantes, o que foi classificado pela Defensoria Pública de SP como um “curral humano”. A ação foi levada ao STF pelo PSOL, mas o pedido de derrubada do muro foi rejeitado pelo ministro Alexandre de Moraes.
Embora o chamado “fluxo” tenha diminuído nas ruas do entorno da estação da Luz e adjacências, como Gusmões, Aurora e General Osório, usuários ainda podem ser vistos em outros pontos da cidade, como a Rua Helvétia e a Alameda Glete — embora em menor número.
Segundo a Prefeitura, entre janeiro e março de 2025, foram realizadas mais de 29 mil abordagens e 7.500 encaminhamentos para serviços de saúde, assistência e trabalho. A gestão Nunes afirma que a atuação é integrada e voltada para a reestruturação social da região.
Ainda assim, o cenário permanece dividido entre quem vê uma operação bem-sucedida de combate ao tráfico e quem denuncia a velha fórmula de dispersar o problema sem oferecer soluções reais e humanas. A Cracolândia, um dos maiores desafios sociais de São Paulo, segue à espera de uma resposta que vá além dos