
Dallagnol mira ex-primeira-dama do Peru, asilada no Brasil, e aciona a PGR
Ex-chefe da Lava-Jato quer investigação sobre Nadine Heredia, acolhida por Lula; ela e o marido foram condenados no Peru por corrupção ligada à Odebrecht
A ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, que desde abril vive no Brasil com status de asilo concedido pelo governo Lula, virou alvo de uma denúncia protocolada nesta quinta-feira (30) na Procuradoria-Geral da República (PGR). Quem assinou o pedido foi Deltan Dallagnol, ex-deputado federal, ex-procurador da Lava-Jato e hoje integrante do Partido Novo.
No documento, Dallagnol pede que Nadine seja investigada por suposto envolvimento nos esquemas de corrupção revelados pela operação Lava-Jato. Ela é esposa de Ollanta Humala, presidente do Peru entre 2011 e 2016.
O ex-procurador relembra que delações feitas por executivos da Odebrecht, incluindo Marcelo Odebrecht, apontaram pagamentos de US$ 3 milhões para a campanha de Humala em 2011. Segundo esses relatos, o dinheiro teria saído a pedido do PT e de Lula, e Nadine teria participado diretamente da operação, inclusive recebendo parte dos valores.
Mas as suspeitas não param aí. As investigações também apontaram que, em 2014, Nadine teria atuado para beneficiar a Odebrecht numa licitação bilionária do Gasoduto Sul Peruano, organizando encontros entre autoridades peruanas e representantes da empreiteira. O contrato, no entanto, desmoronou quando a Odebrecht confessou ter pago subornos de US$ 29 milhões em obras no Peru.
Vale lembrar que, no mês passado, a Justiça peruana condenou Nadine e seu marido a 15 anos de prisão exatamente por esse esquema ligado à Odebrecht. Humala já está preso. Nadine, por outro lado, conseguiu asilo no Brasil, alegando perseguição política e problemas de saúde — ela enfrenta um câncer.
No pedido feito à PGR, Dallagnol questiona o asilo concedido pelo governo brasileiro e dispara:
“A permanência da investigada em território nacional, sob a proteção de um asilo concedido em momento sensível e juridicamente questionável, levanta sérias dúvidas quanto à motivação e aos efeitos práticos da medida. Isso pode estar sendo usado para evitar o cumprimento da sentença estrangeira, obstruir a responsabilização penal e impedir a devolução dos valores desviados.”
Agora cabe ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, decidir se leva adiante ou não o pedido de investigação contra Nadine. Dallagnol afirma que o Brasil não pode se transformar em refúgio para quem foge de processos por corrupção.
Por outro lado, o governo brasileiro, representado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, sustenta que o acolhimento de Nadine segue critérios humanitários, especialmente diante do quadro de saúde dela.