Defesa de Mauro Cid tenta desmontar perfil no Instagram e acusa farsa com críticas ao STF
Advogados afirmam que conta atribuída ao militar espalha mensagens falsas, com erros grosseiros e linguagem que não condiz com seu padrão
A defesa de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e figura central nas investigações sobre a tentativa de golpe de 2022, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que investigue o perfil @gabrielar702 no Instagram. Segundo os advogados, a conta — que teria sido usada para criticar o STF, a Polícia Federal e o ministro Alexandre de Moraes — não pertence ao militar.
O pedido à Corte veio depois de uma reportagem da revista Veja, que apontou o uso da conta por Cid para trocar mensagens com aliados bolsonaristas entre janeiro e março de 2024. O conteúdo indicaria que ele estava descontente com a condução das investigações, questionava a delação e até acusava a PF de tentar direcionar seus depoimentos.
Durante interrogatório recente no STF, o nome do perfil foi citado por Celso Vilardi, advogado de Bolsonaro. Confrontado, Cid negou ser o dono da conta, embora tenha hesitado ao afirmar: “Não sei se é da minha esposa, mas Gabriela é o nome dela”.
Mensagens contestadas
Segundo a reportagem, o perfil traz críticas duras às autoridades, frases como “não precisa de prova, só de narrativa” e comentários sobre os bastidores de sua delação. Em um trecho, o suposto autor diz que investigadores “tentaram colocar palavras em sua boca” e detalha trechos de depoimentos sobre o caso das joias sauditas.
Além disso, as postagens preveem que apenas uma eventual vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA poderia mudar o destino dos investigados.
Linguagem “grosseira” não seria compatível com Cid, diz defesa
Para os advogados, o conteúdo das mensagens não apenas seria falso, como também revelaria uma linguagem incompatível com a formação de Cid. Segundo eles, os textos seriam “grosseiros, quase analfabetos” e cheios de erros de português. “Basta uma leitura simples para perceber que não foi ele quem escreveu aquilo”, alegaram no pedido.
A defesa argumenta ainda que o tom com que o perfil se refere a generais das Forças Armadas seria totalmente alheio à conduta militar.
Delação em risco
Caso se comprove que Cid violou os termos da delação premiada ao se comunicar fora dos canais oficiais ou ao divulgar informações sigilosas, ele pode perder os benefícios obtidos no acordo firmado com a Procuradoria-Geral da República (PGR).
A possível ligação com o perfil no Instagram adiciona uma nova camada de tensão ao caso e coloca em xeque a própria validade do acordo de colaboração — essencial para a investigação sobre a trama golpista que tentou manter Bolsonaro no poder.
