
Demissão em massa na Dataprev escancara contradição etária do governo: renovação para uns, reeleição para outros
Às vésperas de feriado, empresa estatal afasta 92 trabalhadores com mais de 60 anos e abre vagas para novos analistas. Entidade sindical promete recorrer à Justiça
Em um movimento que causou indignação entre trabalhadores e sindicalistas, a Dataprev — estatal responsável por processar dados da Previdência Social — anunciou nesta quarta-feira (17) a demissão de 92 funcionários com idade igual ou superior a 60 anos. A notícia foi enviada por ofício à direção da Fenadados (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Processamento de Dados) na véspera de um feriado, aumentando ainda mais a revolta.
Segundo o comunicado, assinado por Álvaro Botelho (Diretor de Administração de Pessoas e ex-presidente da Prevdata) e por José Ivanildo Dias Júnior (Superintendente de Gestão de Pessoas), a empresa justifica os desligamentos como parte de um “fluxo normal” de entrada e saída de pessoal. Ao mesmo tempo, a estatal inicia a contratação de 122 novos profissionais para cargos de analista.
O discurso da empresa tenta suavizar a medida: “As rescisões refletem fundamentos similares aos que embasam a contratação de novos empregados, considerando as especificidades dos cargos de Analista e Assistente de TI.” Mas o pano de fundo parece mais duro: reduzir custos com pessoal e modernizar o perfil dos trabalhadores, mesmo que isso signifique jogar profissionais experientes para fora.
Entre os argumentos apresentados pela Dataprev para justificar a troca estão:
- “Renovar” o quadro funcional com profissionais mais alinhados às diretrizes tecnológicas do novo Plano Diretor de Tecnologia da Informação (PDTI);
- Reduzir o número de cargos de nível médio (como Assistentes de TI), dando lugar a cargos de nível superior, considerados mais estratégicos;
- Enxugar a folha de pagamento, já que em 2024 os gastos com pessoal ultrapassaram 44% da receita operacional líquida da empresa.
A decisão expõe uma contradição gritante: o mesmo governo que tenta vender a ideia de “renovação” dentro da Dataprev, ao cortar trabalhadores mais velhos, também aposta todas as fichas políticas em um presidente de 79 anos, que já sinalizou disposição para disputar mais uma eleição.
Para a Fenadados, o recado é claro e cruel: envelhecer no Brasil está se tornando um estorvo. A entidade já anunciou que vai buscar a reversão das demissões na Justiça do Trabalho.
Se, por um lado, o governo repete que experiência é uma virtude ao exaltar a figura presidencial, por outro, dentro das estatais, a idade passou a ser tratada como um peso — um custo a ser cortado.