
Deputadas de SP sofrem ameaças brutais por e-mail e recorrem à Justiça em ação conjunta
Treze parlamentares estaduais registram queixa-crime após receberem mensagens com ameaças de morte, estupro e ataques misóginos, racistas e capacitistas. Polícia já identificou o suspeito.
Um grupo de deputadas estaduais de São Paulo deu um passo firme contra a violência política de gênero ao protocolar, na noite da última segunda-feira (2), uma queixa-crime coletiva após receberem ameaças de morte e estupro por e-mail. A mensagem, enviada no sábado (31), continha conteúdos ofensivos e violentos, atingindo diretamente 13 das 24 parlamentares mulheres da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), que assinaram o documento formal.
O e-mail, repleto de ataques racistas, misóginos e capacitistas, foi entregue à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e ao Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad), órgão que atua no monitoramento de crimes virtuais, como cyberbullying, incitação à violência e ameaças.
Durante a terça-feira (3), as deputadas participaram de uma reunião na Alesp com o presidente da Casa, André do Prado (PL), representantes da Polícia Militar e da Polícia Civil. No encontro, além de discutir a gravidade das ameaças, foram levantadas possíveis ações de reforço na segurança interna e externa do Parlamento.
A deputada Andréa Werner (PSB), que foi uma das citadas nominalmente na mensagem, relatou o impacto emocional da situação:
“É meu primeiro mandato e nunca havia recebido uma ameaça de morte. Fiquei profundamente abalada. Tenho um filho pequeno, viajo muito por conta das palestras e visitas. Mesmo com boletim registrado, não me sinto segura até que o responsável seja identificado e punido. Pedi um carro blindado, mas ele não me protege o tempo todo. A segurança precisa ser revista com urgência”, desabafou.
Segundo o presidente da Alesp, todas as medidas possíveis estão sendo analisadas:
“É inadmissível que nossas deputadas sejam alvo de ameaças tão graves. Não vamos tolerar esse tipo de violência. A Assembleia está comprometida em garantir a segurança de todos que atuam aqui, direta ou indiretamente. As investigações estão em andamento e vamos até o fim para encontrar o responsável”, afirmou André do Prado.
A Polícia Civil já localizou o homem que aparece como remetente do e-mail. Ele prestou depoimento alegando inocência e afirmou que seus dados foram usados indevidamente para incriminá-lo. Seu celular e notebook foram apreendidos para perícia.
As parlamentares reforçaram, em nota conjunta, que o episódio é mais uma tentativa de calar mulheres que ocupam cargos políticos — algo que, infelizmente, tem se tornado recorrente no Brasil.
“É um ataque direto ao nosso direito de existir e atuar na política, especialmente num espaço como a Alesp, onde somos apenas 24 entre 94 deputados. Também é um ataque a pessoas negras, com deficiência, idosas — grupos historicamente vulneráveis em nosso país”, declarou novamente Andréa Werner.
Elas cobraram políticas públicas mais eficazes contra a violência política e o uso criminoso das redes sociais:
“A sensação de impunidade no ambiente digital precisa acabar. Não é mais possível conviver com esse tipo de ameaça sem resposta firme do Estado”, concluiu a parlamentar.