
Deputado eleito pelo partido de Bolsonaro vota contra anistia dos presos de 8 de janeiro
Antigo ministro de Dilma, Antônio Carlos Rodrigues surpreende aliados ao ser o único do PL na Câmara a não apoiar urgência do projeto de anistia. E ainda elogia Alexandre de Moraes.
Num episódio que pegou muita gente de surpresa — ou melhor dizendo, um verdadeiro nó político — o deputado federal Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP) foi o único integrante do Partido Liberal na Câmara dos Deputados a se recusar a assinar o pedido de urgência do projeto que concede anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.
Para quem vê de fora, parece confuso: Rodrigues foi ministro dos Transportes no segundo governo Dilma Rousseff, mas, em 2022, se elegeu deputado pelo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, justamente o principal defensor da proposta de anistia. O mais curioso? Durante a campanha, ele manteve distância da imagem bolsonarista — e agora, mais uma vez, se mostra desalinhado com a cartilha da extrema-direita.
O caso de Robinson Faria (RN), que também não assinou o pedido, não entra na conta: ele já trocou o PL pelo Republicanos no fim de 2023, segundo sua assessoria.
No total, 88 parlamentares do PL — cerca de um terço das 262 assinaturas necessárias — endossaram a proposta. Já os líderes Sóstenes Cavalcante (RJ) e o coronel Zucco (RS) não assinaram por uma questão burocrática: seus nomes estavam ali como líderes, e não como deputados, o que não tem validade nesse tipo de documento.
Uma trajetória cheia de voltas
Antônio Carlos Rodrigues foi eleito por São Paulo com mais de 73 mil votos, mas sua carreira vai além das urnas de 2022. Foi senador entre 2012 e 2014, assumindo a vaga de Marta Suplicy, e deixou o Senado para ser ministro de Dilma até o impeachment. Antes disso, já tinha sido vereador da capital paulista por quatro mandatos, presidente da Câmara Municipal por três anos, e ocupou cargos na EMTU, na Prefeitura de Guarulhos e na Assembleia Legislativa.
Ele também é figura conhecida nos bastidores do PL: já presidiu o partido e é ligado a figuras de todas as cores partidárias — inclusive ao PT. Apesar de hoje dividir espaço com nomes do bolsonarismo raiz, como Carla Zambelli e Paulo Bilynskyj, ele também é próximo de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, com quem aparece frequentemente em agendas e registros públicos.
Mas talvez o fato que mais cause desconforto entre bolsonaristas é a sua proximidade com o ministro Alexandre de Moraes, relator das investigações sobre os ataques golpistas. Os dois se conhecem há mais de 30 anos e, em novembro passado, Rodrigues chegou a elogiar publicamente a atuação do ministro, dizendo: “Admiro a atitude e a coragem de Alexandre de Moraes.”
Num partido em que o apoio irrestrito ao bolsonarismo é quase obrigatório, Antônio Carlos Rodrigues parece seguir um roteiro próprio. Se ele está isolado? Talvez. Mas, ao menos por enquanto, deixou claro que não endossa a anistia a quem atacou a democracia. Uma decisão que causa barulho — e revela as rachaduras silenciosas dentro do PL.