
Deputados da base de Lula endossam urgência da anistia do 8 de janeiro e expõem rachaduras no governo
Mais de 70 parlamentares ligados a partidos com cargos no Planalto assinam pedido impulsionado pela oposição; apoio à pauta bolsonarista escancara fragilidade da articulação governista
O projeto de lei que propõe anistiar os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro ganhou um impulso surpreendente — e, para o governo Lula, constrangedor. Até a manhã desta quarta-feira (9), mais de 200 deputados já haviam assinado o pedido de urgência para que a proposta comece a tramitar. Mas o que mais chamou atenção não foi a força da oposição em torno da pauta, e sim o número de apoiadores que vieram de dentro da própria base do governo.
Entre os que endossaram o requerimento, há 76 deputados de partidos que hoje ocupam espaços importantes no primeiro escalão do Executivo. São nomes do União Brasil, Republicanos, PP, MDB e PSD — todos com ministérios nas mãos. É como se o governo estivesse levando rasteiras de dentro de casa, com aliados que, no papel, deveriam sustentar o Planalto, mas na prática flertam com o discurso bolsonarista.
A lista é coordenada pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante, e contou com o apoio de figuras conhecidas por se oporem ao governo Lula, como a deputada Rosangela Moro, esposa do senador Sergio Moro. Mas nem todos são opositores declarados. Otoni de Paula (MDB-RJ), por exemplo, que chegou a defender uma maior aproximação entre a bancada evangélica e o governo, também assinou. Outro caso emblemático é o de Gilberto Nascimento (PSD-SP), que, apesar de integrar um partido da base, teve aval de bolsonaristas para assumir a liderança da frente evangélica.
Esse movimento revela não só o desgaste da articulação política do governo, mas também uma base frágil e fragmentada, onde a fidelidade parece mais uma questão de ocasião do que de convicção. O União Brasil, por exemplo, comanda o Ministério do Turismo e deve reassumir a pasta das Comunicações. Já o PSD e o MDB controlam três ministérios cada um — e, mesmo assim, muitos de seus deputados votam contra os interesses do Planalto sempre que a pauta aperta.
No fim das contas, a urgência da anistia do 8 de janeiro ganhou força não só por causa do bolsonarismo, mas por um governo que não consegue conter o fogo amigo. A cada assinatura vinda da base, fica mais claro que o Palácio do Planalto tem dificuldade em manter coesão política — e que, nesse jogo de alianças voláteis, até ministros se veem na corda bamba, “fritando” em silêncio enquanto o Congresso dá sinais de que está cada vez menos disposto a seguir a linha do Executivo.