Diretor do Instituto Socioambiental admite ter empresa de consultoria que presta serviço à própria ONG
O presidente do Conselho Diretor do Instituto Socioambiental (ISA), Márcio Santilli, admitiu perante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs que possui uma empresa de consultoria que presta serviços à própria organização. A CPI, presidida pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM), investiga supostas irregularidades do ISA, incluindo o uso de dinheiro público, falhas na prestação de contas, recursos estrangeiros, manipulação para demarcação de terras indígenas e exploração de indígenas.
Durante seu depoimento, Santilli revelou que o instituto arrecadou aproximadamente meio bilhão de reais. A CPI já ouviu denúncias sobre o modo de atuação do ISA na região amazônica, incluindo afrouxamento de licenças ambientais, criação de projetos de assentamento em anos eleitorais e a qualidade questionável de estudos técnicos e científicos realizados em parceria com o governo federal.
O ISA foi acusado por indígenas de explorar produtos como cogumelos Ianomâmi e pimenta Baniwa. Um relatório da Abin revelou que o instituto adota posições em conflito com os interesses do governo brasileiro na região, configurando tentativas de interferência externa. Segundo Plínio Valério, o ISA recebeu cerca de R$137 milhões nos últimos dois anos, sem transparência sobre os gastos.
Santilli defendeu a atuação do ISA, mencionando parcerias com associações e organizações indígenas locais. No entanto, o relator da CPI, senador Márcio Bittar, questionou um suposto “conflito moral e ético” envolvendo a secretária-executiva adjunta do ISA, Adriana de Carvalho, que seria sócia de Santilli em uma consultoria e membro do conselho do Fundo Amazônia. Santilli afirmou que Adriana Ramos não faz mais parte do conselho do Fundo Amazônia e é apenas uma representante da sociedade civil brasileira.
A CPI também ouviu depoimentos de indígenas que alegam não ver resultados efetivos dos recursos recebidos pelo ISA e acusam a organização de lucrar com produtos indígenas sem retorno financeiro para as comunidades. O ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo, mencionou a existência de “três estados paralelos” na Amazônia, incluindo o das ONGs. O antropólogo Edward Luz apresentou documentos que indicam um financiamento de 20 milhões de dólares da ONG americana Gordon & Betty Moore Foundation ao ISA, com o objetivo de aumentar terras indígenas no Rio Negro.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi convocada para depor, mas não compareceu, alegando compromissos na Comissão de Agricultura da Câmara. A CPI deve convocá-la novamente, e o funcionamento da comissão está previsto até 19 de dezembro.