Disputa por vaga no TSE vira palco de bastidores entre ministros e Janja: só mulheres na disputa

Disputa por vaga no TSE vira palco de bastidores entre ministros e Janja: só mulheres na disputa

Estela Aranha e Vera Lúcia Araújo lideram corrida por cadeira no tribunal; apoio de Janja e ministros pode ser decisivo para escolha de Lula

A formação inédita de uma lista tríplice composta apenas por mulheres para ocupar uma cadeira no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desencadeou uma intensa movimentação nos bastidores do governo. Estão na disputa as advogadas Estela Aranha, ex-secretária do Ministério da Justiça, e Vera Lúcia Araújo, atual ministra substituta do TSE. Ambas articulam apoios de peso no meio político e no Planalto. Um dos apoios mais cobiçados é o da primeira-dama Janja da Silva, que frequentemente influencia as decisões do presidente Lula.

A lista foi aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e inclui ainda a desembargadora Cristina Maria Neves, do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal. Nenhuma das três se pronunciou publicamente sobre a disputa.

Estela tem se destacado por reunir aliados de peso do entorno de Lula. Entre os entusiastas de sua candidatura está Edinho Silva, ex-ministro e provável novo presidente do PT. Ele destaca a experiência de Estela na área de direito digital — uma bagagem que pode ser crucial em um ano eleitoral marcado pela guerra de desinformação nas redes.

Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, também simpatiza com Estela, que já passou pela assessoria especial da Presidência da República. No STF, a ministra Cármen Lúcia demonstra preferência por ela, embora afirme considerar todas as candidatas qualificadas. Outro que apoia Estela é o ministro Flávio Dino, com quem ela trabalhou diretamente no Ministério da Justiça.

Já Vera Lúcia Araújo tem o apoio do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e do grupo Prerrogativas — coletivo de advogados alinhado ao presidente Lula, conhecido por sua oposição à Operação Lava Jato. Como Estela também integra o grupo, ele evita se posicionar publicamente em favor de apenas uma.

Segundo um jurista próximo a Lula, o presidente tende a respeitar a preferência da atual presidente do TSE. Isso teria acontecido, por exemplo, em maio de 2023, quando Lula nomeou Floriano de Azevedo Marques e André Ramos Tavares, próximos de Alexandre de Moraes, então presidente da Corte Eleitoral.

As três postulantes vêm cumprindo o tradicional roteiro de visitas a gabinetes de ministros do STF e participação em eventos da alta cúpula do Judiciário. Todas foram recebidas pelo ministro Cristiano Zanin, primeira indicação de Lula ao STF em seu terceiro mandato. Na semana passada, Estela foi vista em uma cerimônia em homenagem a Alexandre de Moraes no próprio TSE, evento prestigiado por autoridades dos Três Poderes.

A candidatura de Vera Lúcia também tem uma forte simbologia. Caso seja escolhida, será a primeira mulher negra a se tornar ministra titular do TSE. Recentemente, ela foi vítima de racismo ao tentar entrar em um evento do governo, mesmo apresentando credenciais e documento funcional.

A criação da lista exclusivamente feminina foi uma iniciativa da ministra Cármen Lúcia, aprovada na semana passada pelo STF. A medida se antecipa ao fim dos mandatos das duas mulheres atualmente na Corte: a própria Cármen, cujo mandato termina em agosto de 2026, e Isabel Gallotti, do STJ, que também deixará o TSE antes das eleições de 2026.

Além dessa lista, Lula terá de escolher nomes em outra composição, com três advogados: Floriano de Azevedo Marques, André Ramos Tavares e José Levi do Amaral. Todos são nomes fortes, com trajetórias consolidadas, e contam com apoio de diferentes alas do Judiciário e do governo.

Ao optar por duas listas tríplices separadas — uma só com mulheres e outra mista —, Cármen Lúcia sinaliza a Lula a importância de indicar ao menos uma mulher para a vaga. O processo de escolha de ministros oriundos da advocacia se dá em duas etapas: o STF monta a lista e o presidente da República faz a nomeação.

Agora, a expectativa gira em torno da decisão final de Lula, que deve ser tomada após sua volta da França, na próxima semana. Até lá, o jogo de articulações segue nos bastidores.

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