
“Eleições foram limpas, disse Bianco a Bolsonaro — e ele não contestou”, revela ex-AGU no STF
Ex-ministro afirma que, na frente dele, Bolsonaro aceitou que não havia fraude nas urnas, mas mesmo assim seguiu alimentando dúvidas no país.
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (29/5), o ex-ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Bruno Bianco, afirmou que deixou claro para Jair Bolsonaro que as eleições de 2022 foram limpas, transparentes e sem qualquer problema jurídico.
Bianco contou que, após o segundo turno, o então presidente o chamou para uma conversa e foi direto ao ponto: quis saber se havia algum indício de problema nas urnas ou algo que pudesse ser questionado judicialmente. A resposta do ex-AGU foi curta e clara: “Não, presidente. Não há nada.”
“Disse a ele que, na minha visão, o processo eleitoral foi absolutamente correto, legal e transparente. E, pelo menos ali, na minha frente, Bolsonaro pareceu se dar por satisfeito”, relatou Bianco à Primeira Turma do STF, que investiga as articulações golpistas após a derrota nas urnas.
A reunião em que esse diálogo aconteceu, segundo Bianco, contou também com os ex-comandantes das Forças Armadas, além dos ex-ministros da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e da Justiça, Anderson Torres.
Apesar da aparente aceitação naquele momento, sabemos que Bolsonaro seguiu alimentando dúvidas e desinformação sobre o sistema eleitoral.
Pressão sobre os ministros e desconfiança plantada
No mesmo processo, o ex-ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, também foi ouvido como testemunha. Ele revelou ter participado de uma reunião ministerial em 5 de julho de 2022, na qual Bolsonaro cobrou mais empenho dos ministros na defesa do governo e, claro, voltou a tocar no tema das urnas eletrônicas.
Apesar do tom, Sachsida disse não ter visto novidade no assunto:
“Desde 2007 tem gente no Brasil que questiona as urnas eletrônicas”, afirmou, numa tentativa de normalizar um discurso que acabou mergulhando o país em semanas de tensão democrática.
O STF segue ouvindo as testemunhas ligadas ao ex-ministro Anderson Torres até o dia 2 de junho. Logo depois, será a vez dos depoentes indicados pela defesa do próprio Bolsonaro começarem a falar.