
Enquanto o Nordeste Seca, Granja do Torto Ganha Cascata Artificial Luxuosa
Reforma milionária contrasta com o corte do fornecimento de água por carros-pipa na Paraíba e outras regiões nordestinas.
No Brasil das contradições, enquanto nordestinos sofrem com a falta d’água após o corte do fornecimento por carros-pipa, a Granja do Torto, uma das residências oficiais do presidente, ganha uma cascata artificial luxuosa. A novidade foi apresentada pela primeira-dama, Janja da Silva, em suas redes sociais, exibindo o lago ornamentado com carpas coloridas e água cristalina, um cenário digno de um resort cinco estrelas.
“Domingo energizado”, escreveu Janja na legenda, ignorando completamente o fato de que, no mesmo domingo, milhares de famílias no sertão nordestino enfrentavam a dura realidade de secas e torneiras vazias. A reforma, segundo a Casa Civil, faz parte de uma “manutenção corretiva e preventiva” e é justificada como necessária para manter um “criadouro conservacionista” que inclui jabutis e peixes ornamentais.
É irônico — e revoltante — que, enquanto crianças no Nordeste carregam baldes quilômetro após quilômetro em busca de água potável, a água jorra generosamente para oxigenar o lago artificial de uma residência que, na prática, serve como casa de campo presidencial. A justificativa técnica sobre a necessidade de “agitação do leito” para manter a vitalidade dos peixes soa quase como um deboche para quem vive na aridez do sertão.
A obra, bancada pelo dinheiro público, escancara a desigualdade e o descaso de um governo que deveria priorizar os mais vulneráveis. Em vez disso, opta por reformar espelhos d’água e alimentar peixes ornamentais, enquanto corta o básico de quem mais precisa. Afinal, o que é mais urgente: saciar a sede de uma população ou garantir que carpas nadem em água cristalina?
O episódio reflete a insensibilidade e a desconexão com a realidade do povo brasileiro, especialmente dos nordestinos que, mais uma vez, são relegados ao esquecimento. Se o governo Lula investisse em soluções para a seca com a mesma dedicação que coloca em suas cascatas artificiais, o sertão poderia finalmente deixar de ser um sinônimo de abandono.