
Escândalo na Previdência: Sindicato ligado ao irmão de Lula lucra R$ 100 milhões em meio a descontos suspeitos no INSS
Vice-presidido por Frei Chico, o Sindnapi é alvo da Polícia Federal por supostas cobranças indevidas de aposentados e cresce 260% em filiações durante os anos mais lucrativos do esquema
São Paulo — Um sindicato presidido por um irmão do presidente Lula está no centro de uma investigação que envolve suspeitas de desvio de dinheiro público e descontos indevidos em aposentadorias do INSS. Segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi), que tem Frei Chico como vice-presidente, aumentou seu faturamento em R$ 100 milhões entre 2021 e 2023 — período que coincide com o auge de um esquema bilionário de descontos questionáveis sobre benefícios previdenciários.
O Sindnapi mantém um acordo com o INSS há mais de dez anos, que permite o desconto direto de mensalidades dos aposentados filiados à entidade. Até 2020, o número de associados girava em torno de 170 mil. Mas esse número mais do que dobrou em três anos, saltando para 420 mil pessoas. Na mesma toada, o faturamento pulou de R$ 41 milhões para R$ 149 milhões.
Embora o sindicato tenha apresentado alguns documentos para validar a filiação de beneficiários — como vídeos e gravações de voz —, a Controladoria-Geral da União (CGU) encontrou problemas sérios. Em uma amostra de 26 pessoas descontadas na folha do INSS, 20 afirmaram nunca ter se associado ao sindicato.
Outro dado curioso chama atenção: a maioria dos novos filiados teve os descontos iniciados quase simultaneamente à assinatura de contratos de empréstimo consignado, levantando suspeitas de uma possível “venda casada”. Apesar disso, o TCU não fez nenhuma recomendação específica sobre a prática.
O Sindnapi também abriga, em sua sede, uma cooperativa que funciona como instituição financeira e oferece crédito consignado aos aposentados — o que aumenta ainda mais as dúvidas sobre a transparência das adesões.
Milton Cavalo, atual presidente do sindicato, é filiado ao PDT e aliado do ministro da Previdência Carlos Lupi, o que provocou atrito com o deputado Paulinho da Força, fundador do Sindnapi e presidente de honra da Força Sindical. Paulinho afirma que foi excluído das últimas eleições internas e tentou, sem sucesso, anular a escolha de Cavalo na Justiça.
Frei Chico, que está no sindicato desde 2008, assumiu a vice-presidência justamente em 2023 — o mesmo ano em que a entidade bateu recorde de filiações e arrecadação. Após a operação da Polícia Federal que investiga 11 entidades suspeitas de fraudar os aposentados, Paulinho foi às redes sociais denunciar o que chamou de “maior roubo ao trabalhador da história do país”.
Milton Cavalo disse que a entidade conta com 80 postos de atendimento em todo o Brasil e que nenhum dirigente foi alvo de busca da PF. Ele afirma que os filiados aderem ao sindicato de forma voluntária e que o processo é documentado com biometria facial, áudios e formulários assinados.
Cavalo ainda acusa a CGU de ter conduzido entrevistas com tom intimidador, o que teria levado aposentados a negar a filiação. Segundo ele, o Sindnapi apoia as investigações, mas ressalta que há outras entidades sim, envolvidas em fraudes, e que o sindicato está sendo injustamente colocado no centro da polêmica.