
Favela do Moinho sob ameaça: SP acelera plano de remoção em área marcada por abandono e resistência
Com promessa de reassentamento, auxílio financeiro e poucas moradias prontas, governo Tarcísio enfrenta impasse com famílias que ainda resistem à saída forçada
O governo de São Paulo, liderado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), está avançando com um plano que prevê a remoção gradual da favela do Moinho, uma das ocupações mais antigas e simbólicas da capital paulista. Localizada no coração da cidade, entre os trilhos das linhas 8-Diamante e 7-Rubi da CPTM, a comunidade vive há anos à sombra do descaso e sob constante risco de incêndios, conflitos fundiários e abandono do poder público.
Segundo o governo estadual, 84% das 813 famílias já aceitaram a proposta de reassentamento, sendo que 444 delas já têm um novo local definido para morar. Para facilitar a transição, o Estado oferece R$ 800 de auxílio aluguel e R$ 2.400 para custear a mudança. Mas essa ajuda esbarra em um problema concreto: faltam moradias. Apenas 100 unidades habitacionais estão prontas e outras 400 ainda estão em construção.
A promessa é de subsídios de até 70% para famílias de baixa renda na compra de imóveis que podem custar entre R$ 200 mil e R$ 250 mil. Na prática, muitos moradores temem não conseguir arcar com o valor restante — ou sequer serem contemplados.
Apesar da adesão da maioria, uma parte expressiva da comunidade resiste. Quem ainda está lá relata medo de remoções forçadas e acusa o governo de usar o discurso da criminalização — associando a comunidade ao tráfico — como justificativa para acelerar a desocupação.
A área pertence à União, o que exige diálogo com o governo federal para que a desocupação avance e um parque seja construído no local. A proposta faz parte de um plano mais amplo de “requalificação urbana”, mas moradores e líderes comunitários enxergam nisso um risco de gentrificação: temem que a valorização da região beneficie investidores e expulse quem há décadas construiu ali suas raízes.
Enquanto o governo promete modernização, muitos moradores sentem que o que está em jogo é o direito de existir num espaço onde sempre foram vistos como invisíveis.