Fraude com selfies no INSS escancara vulnerabilidade de aposentados

Fraude com selfies no INSS escancara vulnerabilidade de aposentados

Criminosos usaram fotos das redes sociais e bancos de dados vazados para autorizar empréstimos consignados sem consentimento dos beneficiários; governo reage com reconhecimento facial obrigatório.

Em mais um capítulo da crise de fraudes no INSS, um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) revelou que golpistas têm se aproveitado da exposição digital de aposentados e pensionistas para aplicar golpes com empréstimos consignados. Usando selfies extraídas de redes sociais ou imagens vazadas de bases de dados do próprio INSS, criminosos conseguiram autorizar contratos de empréstimo em nome de segurados — sem que eles sequer soubessem.

O estrago só era descoberto quando os beneficiários viam o desconto mensal no valor que recebiam. Em muitos casos, os golpistas se passavam por representantes de instituições financeiras ou do próprio INSS, prometendo restituições ou revisões de aposentadoria, e assim convenciam as vítimas a compartilhar fotos e dados pessoais.

Diante da gravidade, o governo federal reagiu na quinta-feira (8) com uma medida emergencial: todos os novos empréstimos consignados estão temporariamente bloqueados. A partir de agora, qualquer nova contratação só poderá ser autorizada mediante reconhecimento facial pelo aplicativo Meu INSS — um mecanismo que o governo espera que funcione como barreira para fraudes semelhantes.

A tecnologia de biometria facial passa a ser considerada assinatura eletrônica avançada, e só poderá ser realizada pelo próprio titular do benefício. A medida vem após o Tribunal de Contas da União (TCU) apontar falhas nos sistemas de controle do INSS em 2023. À época, o TCU já alertava que o crescimento desenfreado do volume de consignados — que saltou de R$ 57,5 bilhões em 2021 para R$ 89,2 bilhões em 2023 — havia criado um terreno fértil para fraudes.

O uso de selfies como prova de consentimento vinha sendo questionado por tribunais em diversos estados, principalmente em processos envolvendo idosos, pessoas analfabetas ou em situação de vulnerabilidade social.

A fraude com selfies se soma a outro escândalo recente: a Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal em abril. A investigação revelou um esquema de descontos ilegais feitos por entidades e sindicatos diretamente nos benefícios do INSS, também sem o aval dos segurados. O governo já anunciou um plano de devolução dos valores indevidamente descontados e está cortando o acesso de entidades suspeitas ao sistema.

Agora, o desafio é duplo: estancar os prejuízos e reconstruir a confiança dos aposentados, que se veem cada vez mais como alvos fáceis de um sistema que deveria protegê-los.

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