Fraude escancarada no INSS: Biometria paralela vira porta aberta para descontos ilegais

Fraude escancarada no INSS: Biometria paralela vira porta aberta para descontos ilegais

Mesmo com alertas da PF e CGU, o INSS ignorou regras e deixou associações usarem sistemas próprios para descontar dinheiro dos aposentados

Imagine você, aposentado, acordar e descobrir que parte do seu benefício sumiu — sem aviso, sem autorização, sem explicação. Pois é exatamente isso que está acontecendo com milhares de brasileiros, graças a um escândalo que envolve o próprio INSS.

Documentos obtidos pelo Jornal Nacional revelam que, mesmo após uma enxurrada de denúncias e com regras claras para evitar fraudes, o INSS permitiu que associações aplicassem descontos em massa nos benefícios usando sistemas paralelos — fora do controle do governo.

O mais chocante? Isso continuou mesmo depois de alertas da Controladoria-Geral da União (CGU), do Tribunal de Contas da União (TCU) e com investigações da Polícia Federal em andamento.

Desde julho de 2024, o INSS já havia determinado que qualquer desconto só poderia ser feito com assinatura eletrônica avançada e biometria oficial — aquela feita nos sistemas do próprio governo, com toda a segurança da Dataprev. Mas parece que, na prática, essa regra virou letra morta.

Associações como a ANDDAP (Associação Nacional de Defesa do Direito dos Aposentados e Pensionistas) se aproveitaram de brechas e usaram plataformas privadas, sem a biometria oficial, para filiar mais de 184 mil beneficiários num piscar de olhos.

E não parou por aí:

  • A Amar Brasil ABCB conseguiu cadastrar 39 mil pessoas em dezembro de 2024.
  • A Masterprev, mais de 15 mil em julho.

Todas essas adesões foram feitas ignorando o protocolo oficial, usando sistemas próprios de reconhecimento facial — uma “biometria paralela” que não tinha a validação do governo.

O resultado? Uma avalanche de reclamações. Na própria plataforma oficial do INSS, que serve para os segurados contestarem os descontos, mais de 99% dos beneficiários afirmaram que nunca autorizaram essas cobranças. Na internet, pipocam relatos de indignação, além de processos judiciais contra essas entidades.

Mesmo assim, quem estava no comando do INSS na época, Alessandro Stefanutto, não apenas ignorou o problema, como ainda autorizou formalmente que 16 associações utilizassem esses sistemas alternativos. Isso aconteceu duas vezes, inclusive depois que o sistema oficial da Dataprev ficou pronto em setembro de 2024.

O atual presidente do INSS, Gilberto Waller Junior, não escondeu sua indignação:

“Isso abre as portas para a fraude. O INSS jamais deveria ter criado um atalho, justamente quando já havia denúncias e recomendações dos órgãos de controle”, disparou.

As quatro associações — ANDDAP, Amar Brasil ABCB, Masterprev e uma quarta não revelada — estão sendo investigadas pela CGU e pela Polícia Federal. E, pasme, apesar do volume absurdo de adesões, elas ainda não estão na lista das 12 entidades que tiveram bens bloqueados pela Justiça.

Enquanto isso, quem paga essa conta — literalmente — são os aposentados e pensionistas, que lutam para recuperar o dinheiro arrancado sem autorização.

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