Fraudes no INSS: investigada viajou 33 vezes ao exterior enquanto aposentados eram lesados

Fraudes no INSS: investigada viajou 33 vezes ao exterior enquanto aposentados eram lesados

PF aponta que Cecília Mota, ligada a entidades suspeitas, fez viagens de luxo em meio a um esquema que teria desviado bilhões de beneficiários do INSS

Enquanto milhões de aposentados sofriam com descontos indevidos em seus benefícios, a advogada e servidora aposentada Cecília Rodrigues Mota parecia viver uma realidade paralela: entre janeiro e novembro de 2024, ela embarcou 33 vezes para destinos como Dubai, Paris e Lisboa. Segundo a Polícia Federal, Cecília é apontada como presidente de fachada de diversas associações envolvidas em um esquema milionário de fraudes no INSS.

As investigações revelam que, além de Cecília, outras pessoas ligadas a ela também teriam aproveitado os lucros do esquema. Um dos suspeitos, por exemplo, fez 15 viagens a Lisboa no mesmo período. Outro caso chama ainda mais atenção: uma mulher que se apresentou como faxineira viajou para Dubai e, no mesmo período, recebeu mais de R$ 350 mil de uma empresa associada à investigada.

De acordo com a PF, entre 2017 e 2020, Cecília atuou como presidente em pelo menos duas associações agora sob investigação. Pessoas físicas e jurídicas ligadas a ela teriam recebido cerca de R$ 14 milhões dessas entidades e de empresas intermediárias. O padrão das movimentações financeiras indica pressa para transferir valores, deixando pouco dinheiro em conta e dificultando o rastreamento.

A operação, realizada no dia 22 de abril em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), cumpriu 211 mandados, incluindo buscas, sequestro de bens avaliados em mais de R$ 1 bilhão e seis prisões temporárias. Segundo os investigadores, o golpe aplicava descontos mensais indevidos diretamente nos benefícios de aposentados e pensionistas, gerando um prejuízo estimado de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.

Com o escândalo, o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido e servidores foram afastados. Em resposta à crise, o governo suspendeu todos os convênios com associações e sindicatos, congelando os descontos diretamente na folha de pagamento dos beneficiários até que uma nova análise seja concluída.

Segundo o ministro da CGU, Vinicius de Carvalho, será necessário suspender todos os acordos de cooperação técnica firmados pelo INSS nos últimos anos para reorganizar o sistema de descontos. O governo promete devolver o que foi retirado indevidamente dos beneficiários, mas ainda não há prazo definido nem detalhes sobre como esse ressarcimento será feito.

Enquanto isso, os envolvidos podem responder por crimes como corrupção ativa e passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e falsificação de documentos. O escândalo acende um alerta sobre a vulnerabilidade dos aposentados frente a esquemas disfarçados de convênios legais — e sobre como o luxo de poucos custou o suor de milhões.

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