
Gilmar Mendes sai em defesa de Moraes e cutuca Moro: “Não há comparação possível”
Ministro do STF rebate críticas bolsonaristas, nega suspeição de Moraes e volta a chamar a Lava Jato de “organização criminosa” em evento em Harvard.
O ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), não poupou palavras neste sábado (12) ao defender o colega Alexandre de Moraes, alvo frequente de ataques bolsonaristas por conduzir investigações relacionadas ao 8 de janeiro. Para Gilmar, não há qualquer motivo legítimo para afastar Moraes dos inquéritos que investigam a tentativa de golpe.
Durante participação na 11ª edição da Brazil Conference, em Harvard, Gilmar desmentiu a narrativa de que Moraes estaria agindo com parcialidade por ser uma das vítimas dos atos golpistas. Segundo ele, Alexandre apenas continua relatando casos que já estavam sob sua responsabilidade, sem qualquer indício de interesse pessoal. “Não está impedido, não é suspeito, e não há julgamento em causa própria”, afirmou.
Gilmar também aproveitou para afastar qualquer analogia entre Moraes e Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato e hoje senador. “Não dá para comparar Moraes com Moro. Moro teve contato com Bolsonaro antes das eleições, aceitou ser ministro. Isso sim é associação política explícita”, destacou.
Além de reforçar sua crítica a Moro, Gilmar reafirmou seu papel no desmonte da Operação Lava Jato, a qual voltou a classificar como uma “organização criminosa” montada em Curitiba. Ele lembrou que, embora tenha apoiado inicialmente a força-tarefa, mudou de opinião com o tempo, ao perceber os abusos e a politização das investigações.
Com bom humor, o ministro contou um episódio em que teria ironizado o próprio Bolsonaro: “Ele me disse que cometeu muitos erros, e um deles foi nomear Moro. Eu respondi: talvez tenha sido seu maior acerto, porque o senhor tirou Moro de Curitiba e o devolveu ao nada”, arrancando risos da plateia.
Ainda no evento, Gilmar rejeitou as acusações de que o STF estaria ultrapassando seus limites constitucionais. Segundo ele, o problema está na falta de compreensão sobre o papel da Corte. “Todos falam que os ministros do Supremo aparecem mais que os jogadores da seleção brasileira. Mas sejamos honestos: a seleção também não tem ido muito bem”, brincou.
Por fim, o decano destacou que o Supremo tem evoluído nos últimos dez anos, trocando protagonismos individuais por uma atuação mais integrada. “Deixar de lado pautas pessoais e fortalecer o coletivo foi uma lição importante que aprendemos. O protagonismo deve ser do tribunal, e não de seus membros isoladamente”, concluiu.