Globo: de campeã de verbas públicas a patrimônio “imaterial” do Rio

Globo: de campeã de verbas públicas a patrimônio “imaterial” do Rio

Prefeito Eduardo Paes decreta homenagem à emissora que, além de moldar a cultura nacional, também sabe moldar orçamentos — especialmente os de publicidade estatal.

O Rio de Janeiro, famoso por suas paisagens, seu carnaval e sua política de homenagens curiosas, acaba de ganhar mais um feito para a lista: o Grupo Globo foi oficialmente declarado patrimônio cultural imaterial da cidade. Sim, a mesma Globo que há décadas é campeã de audiência e, não por coincidência, também de verbas publicitárias do governo.

O decreto, assinado pelo prefeito Eduardo Paes, celebra a centenária trajetória do conglomerado fundado por Irineu Marinho, exaltando sua “contribuição histórica, cultural e social” — como se novelas recicladas, telejornais enviesados e contratos polpudos com governos de todos os matizes não fossem suficientes como currículo.

No texto, o governo municipal enaltece a emissora que, além de dominar o mercado nacional, também soube se reinventar tecnologicamente: da era da televisão em preto e branco à era do streaming. Um império midiático que agora também é… patrimônio da cidade maravilhosa.

Claro, tudo isso vem em um ano simbólico: 100 anos do jornal O Globo, 60 da TV Globo e 10 do Globoplay — ou seja, uma década tentando entender o que é Netflix.

E, para quem acha que é só uma homenagem simbólica, vale lembrar que o reconhecimento como patrimônio cultural vem com prestígio institucional e, muitas vezes, facilidades em parcerias e editais públicos. Em tempos de crise, é sempre bom garantir espaço na memória — e no orçamento.

No fim das contas, a Globo não apenas forma opinião. Forma, também, uma bela carteira de relações públicas com o poder. Merece ou não merece virar patrimônio? Se depender do caixa da prefeitura e da publicidade federal, patrimônio ela sempre foi. Agora só falta o título de tesouro nacional não declarado.

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