Golpe cruel: aposentados com deficiência e analfabetos foram alvos de fraudes no INSS

Golpe cruel: aposentados com deficiência e analfabetos foram alvos de fraudes no INSS


Investigação revela que beneficiários vulneráveis, muitos sem condições de se locomover ou assinar documentos, tiveram valores descontados indevidamente por entidades ligadas ao sistema previdenciário

Uma investigação conjunta da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) revelou um esquema de fraudes envolvendo descontos indevidos nos benefícios de aposentados do INSS. E o mais chocante: as principais vítimas eram justamente os mais vulneráveis — idosos com deficiência, analfabetos, pessoas gravemente doentes e moradores de áreas rurais distantes, sem acesso à internet ou transporte.

Entre os casos emblemáticos está o de um aposentado de 78 anos, morador de Manacapuru, no Amazonas, que teria sido vinculado a uma associação localizada a quase mil quilômetros de distância, em São Gabriel da Cachoeira. Para chegar lá, seria necessário enfrentar uma jornada de 27 horas e meia, combinando táxi e barco. A CGU questiona: como alguém em idade tão avançada e com tantas limitações faria uma viagem dessas apenas para se filiar a uma entidade?

A investigação aponta ainda que ao menos 14 beneficiários estavam “associados” a organizações situadas em cidades diferentes de onde vivem — muitos sequer sabiam desses vínculos. Segundo o relatório, há registros de pessoas impossibilitadas até mesmo de assinar uma autorização: indígenas que não sabem ler, acamados com doenças graves, deficientes físicos ou residentes no exterior, sem nenhum contato com essas instituições.

De 1.198 aposentados entrevistados pela CGU, 1.172 afirmaram categoricamente que jamais autorizaram os descontos. Pior: há situações em que, mesmo após o pedido de cancelamento, outro desconto era misteriosamente cadastrado no sistema.

A Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer), citada como responsável por organizar os cadastros, afirmou estar à disposição das autoridades e que atua na defesa de direitos previdenciários.

A Polícia Federal concluiu, com base nos documentos, que o INSS falhou gravemente em proteger seus beneficiários mais frágeis. Em vez de criar barreiras contra abusos, o sistema permitiu que práticas questionáveis se espalhassem, prejudicando justamente quem mais precisa de apoio.

Segundo nota divulgada pelo próprio INSS, os acordos com as entidades envolvidas foram suspensos. O Ministério da Previdência, a CGU, a AGU e a Polícia Federal seguem apurando o caso, e um grupo jurídico já estuda a devolução dos valores descontados indevidamente antes de abril de 2025.

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