
Golpistas se disfarçam de governo nas redes e obrigam AGU a acionar a Meta
Anúncios falsos com imagem de autoridades federais enganam usuários vulneráveis e expõem falhas graves na moderação das plataformas digitais
A onda de golpes virtuais travestidos de anúncios oficiais nas redes sociais reacendeu um alerta no governo federal. A Advocacia-Geral da União (AGU) entrou com uma ação civil pública contra a Meta — dona do Facebook, Instagram e WhatsApp — por permitir a divulgação de conteúdos fraudulentos que usam, de forma indevida, símbolos do governo e imagens de autoridades como o presidente da República e ministros de Estado.
Esses anúncios enganosos, muitas vezes maquiados com montagens bem-feitas, prometem supostos benefícios financeiros, valores “esquecidos” a receber ou oportunidades de investimento, tudo para fisgar a atenção de cidadãos — especialmente os mais vulneráveis — e induzi-los a cair em armadilhas como transferências via PIX.
A denúncia da AGU se apoia em um levantamento técnico do NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que identificou uma explosão de conteúdos patrocinados enganosos no ecossistema da Meta entre janeiro e abril de 2025. O estudo revelou falhas sistemáticas na verificação dos anunciantes e na moderação dos conteúdos pagos — justamente os que mais circulam e mais lucram.
A AGU acusa a Meta de negligência, descumprindo seu dever de zelar por um ambiente digital seguro, como determina o Marco Civil da Internet. Na ação, o órgão solicita que a Justiça determine medidas concretas, como:
- A remoção imediata dos anúncios fraudulentos;
- A implantação de mecanismos automáticos para detectar golpes;
- Uma revisão rigorosa nos critérios de aprovação de anúncios;
- O pagamento de uma indenização por danos morais coletivos, cujo valor deverá ser revertido ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), que financia ações de educação digital e proteção cibernética.
Esses golpes não afetam apenas o bolso das vítimas. Eles corroem a credibilidade das instituições públicas e minam a confiança da sociedade nas redes sociais como fontes confiáveis de informação. Ao permitir — e lucrar com — esse tipo de conteúdo, a Meta se torna parte do problema.
Até o momento, a empresa não se pronunciou sobre a ação. Internamente, a Meta alega usar inteligência artificial e equipes humanas para moderar os anúncios. No entanto, especialistas são unânimes em apontar que o sistema atual é falho, lento e facilmente driblado por golpistas experientes.
Especialistas defendem que combater fraudes digitais exige um esforço conjunto, que vai além do Judiciário. São necessárias campanhas de educação digital para a população, mais transparência sobre os algoritmos usados pelas plataformas, parcerias com o poder público para agir com rapidez, e leis específicas para regulamentar o uso de símbolos e imagens oficiais em anúncios pagos.
A ação da AGU pode representar um divisor de águas na responsabilização de empresas de tecnologia pelo conteúdo que lucram para veicular. Se a Justiça acolher os pedidos, o Brasil poderá influenciar políticas globais sobre segurança digital.