Governo recua no IOF às pressas com medo de novo “efeito Nikolas”

Governo recua no IOF às pressas com medo de novo “efeito Nikolas”

Temendo desgaste nas redes, Planalto age rápido para evitar crise como a do Pix

O governo Lula teve que acelerar o passo e, no apagar das luzes de quinta-feira (22), voltou atrás na mudança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para tentar escapar de uma nova bomba nas redes sociais — como aconteceu em janeiro, no episódio do Pix.

O temor no Planalto era ver surgir mais um “efeito Nikolas”, em referência ao deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), que conseguiu viralizar vídeos acusando o governo de querer taxar o Pix e, mais recentemente, de ser responsável pelo escândalo dos descontos indevidos no INSS. Só esse último vídeo dele bateu 100 milhões de visualizações em um dia.

Diante do risco de mais uma avalanche de desinformação, ministros e técnicos do governo se reuniram às pressas no Planalto para rever o decreto que alterava o IOF. A ordem era clara: evitar dar munição para a oposição e, ao mesmo tempo, acalmar o mercado.

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) chegou a cogitar deixar o anúncio do recuo para a manhã seguinte, mas foi convencido por Sidônio Palmeira, da Secom, a divulgar a decisão imediatamente, ainda na madrugada. O receio era começar o dia com o mercado em polvorosa e os vídeos inflamando as redes.

O pano de fundo da confusão foi a tentativa de taxar, com IOF de 3,5%, investimentos de brasileiros em ativos no exterior — antes isentos. A reação foi imediata. Durante a coletiva para detalhar as medidas, técnicos da própria Fazenda perceberam que tinham ido longe demais. Segundo fontes do governo, o texto do decreto permitiria, na prática, uma tributação diária, algo que soaria como controle sobre entrada e saída de capitais.

Um auxiliar do governo reconheceu: “Erramos na mão, foi além do que devia”. A percepção foi que, além do impacto econômico, a medida poderia ser politicamente explorada — e, mais uma vez, virar combustível para ataques nas redes.

O episódio reviveu o trauma de janeiro, quando a equipe econômica foi criticada até dentro do próprio governo por não consultar o Planalto antes de anunciar maior fiscalização sobre transações via Pix acima de R$ 5 mil. Na época, Lula interveio e mandou cancelar.

Agora, com a crise do INSS ainda causando estragos, o governo tenta mostrar que aprendeu a lição — ou, pelo menos, que está mais atento aos riscos de virar alvo fácil no ambiente digital.

Haddad, nesta sexta (23), tentou amenizar: “Corrigir a rota não é problema, desde que o caminho continue sendo o certo”. Mas, no fundo, a pressa deixou claro: o governo está tão preocupado com a reação dos mercados quanto com o que viraliza no X, no Instagram e no WhatsApp.

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