Haddad critica Bolsonaro e Nikolas, oposição reage e bate-boca
Discussão entre o ministro da Fazenda e deputados bolsonaristas interrompe audiência na Câmara com gritos, acusações e trocas de ironias
A audiência pública com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na Câmara dos Deputados, que tinha tudo para ser uma discussão técnica sobre medidas econômicas, virou um verdadeiro palco de confronto político. O clima esquentou quando Haddad criticou os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ), acusando-os de fugirem do debate. A resposta foi imediata — com gritos de “fujão” e até acusações de “molecagem”.
A confusão começou durante uma reunião conjunta das comissões de Finanças e Tributação e de Fiscalização Financeira e Controle. Nikolas e Jordy fizeram críticas pesadas ao governo e às propostas da Fazenda, mas saíram da sessão antes mesmo de ouvir o que Haddad tinha a dizer. Ao retomar a palavra, o ministro não poupou palavras: chamou a atitude dos deputados de “molecagem” e disse que eles fogem da discussão pública.
— Eu venho com dados oficiais para debater. Mas quem quer só lacrar nas redes sociais e foge quando o assunto é sério está prestando um desserviço à democracia — disse Haddad, visivelmente irritado.
A fala gerou protestos imediatos. Capitão Alberto Neto (PL-AM) interrompeu Haddad e exigiu respeito. Logo depois, Carlos Jordy retornou à sessão e retrucou com ofensas:
— Moleque é o senhor, ministro. Aceita um cargo desse tamanho e só faz atrapalhar a economia. Respeite o Parlamento — disparou Jordy, ignorando o fato de que o maior rombo fiscal do país foi em 2020, no governo Bolsonaro, durante a pandemia.
Haddad ainda aproveitou para rebater o suposto superávit deixado por Bolsonaro em 2022. Segundo ele, o resultado foi maquiado com medidas eleitorais, como a redução forçada do ICMS nos estados e desonerações pontuais.
— Superávit assim qualquer um faz: vendendo patrimônio público, dando calote e tirando dinheiro dos governadores. É esse o legado que querem defender?
Em outro momento, Nikolas Ferreira voltou ao plenário para polemizar sobre as visualizações de um vídeo seu que, segundo Haddad, espalhou desinformação sobre mudanças nas regras do Pix. O presidente da comissão, deputado Rogério Correia (PT-MG), tentou manter a ordem e aplicou o regimento para encerrar a fala de Nikolas, que não aceitou. Resultado: um bate-boca generalizado impediu a continuação da audiência.
Sem alternativa, Correia encerrou a sessão. Haddad, do lado de fora, desabafou:
— Eles perguntam, jogam um monte de números errados e saem sem ouvir a resposta. Imagina se fosse o contrário? Se eu deixasse alguém falando sozinho?
O ministro ainda lembrou o caso recente com a ministra Marina Silva, que foi desrespeitada por um senador em audiência no Senado, e disse que o objetivo dos parlamentares oposicionistas é claro: tumultuar e atrasar a tramitação das medidas fiscais que estão em estudo.
Do outro lado, o deputado Marco Feliciano (PL-SP) acusou o presidente da sessão, Rogério Correia, de proteger Haddad, já que ambos são do PT e rivais políticos de Nikolas em Minas Gerais.
No fim das contas, pouco se discutiu sobre economia. A sessão terminou sem encaminhamentos práticos, mas com um retrato claro do clima tóxico entre o governo e parte da oposição.
