Harvard enfrenta Trump e tem verbas bilionárias congeladas pelo governo
Universidade rejeita exigências políticas da gestão republicana e defende sua autonomia acadêmica; estudantes estrangeiros relatam clima de medo
CAMBRIDGE, EUA – A Universidade Harvard, símbolo de excelência acadêmica nos Estados Unidos, decidiu bater de frente com o governo Trump ao recusar a adoção de medidas que limitem sua liberdade institucional. Em resposta, a Casa Branca congelou US$ 2,2 bilhões em financiamentos e outros US$ 60 milhões em contratos com a universidade.
A decisão veio após Harvard recusar exigências impostas por Washington para manter os recursos, que incluíam maior controle ideológico sobre o ambiente acadêmico. “Não vamos abrir mão de nossa independência nem dos nossos direitos constitucionais”, afirmou o reitor Alan Garber, frisando que as demandas do governo excedem o poder legítimo da administração federal.
As tensões entre Harvard e a gestão republicana vêm se intensificando desde março, quando o governo passou a condicionar novos aportes de bilhões de dólares à suposta necessidade de a universidade combater com mais vigor o antissemitismo no campus. Apesar de reconhecer o problema, Garber afirma que muitas das exigências visam, na verdade, fiscalizar opiniões e punir visões ideológicas contrárias ao governo.
Nos bastidores, o clima entre estudantes estrangeiros é de apreensão. Brasileiros ouvidos pela reportagem, todos com status migratório regular, relatam medo de ter seus vistos cancelados, mesmo com o apoio institucional da universidade. Muitos preferem não se pronunciar publicamente, evitam postagens políticas e adotam cautela nas redes sociais.
Já há casos concretos: três alunos tiveram os vistos revogados, segundo o escritório internacional de Harvard, que os encaminhou para assessoria jurídica. Outros pesquisadores, como o brasileiro Rodrigo Nogueira, convidado para um evento sobre inteligência artificial no MIT, também enfrentaram dificuldades com os trâmites consulares, mesmo com toda a documentação em ordem.
Para lidar com o cenário, Harvard intensificou ações de apoio aos seus alunos internacionais. Além de reuniões sobre direitos legais, a universidade oferece ajuda jurídica gratuita por meio da Iniciativa de Representação de Harvard (HRI). Localizada em Cambridge, uma cidade-santuário que protege imigrantes, a instituição reforça seu compromisso com a diversidade e com o pensamento livre – ainda que isso tenha um custo alto frente ao governo Trump.
