
Inflação dos alimentos resiste e governo Lula corre contra o tempo
Com o bolso do trabalhador cada vez mais apertado, Planalto aposta em mudanças no vale-alimentação, mas enfrenta impasses e resistência
Às vésperas do Dia do Trabalhador, o governo Lula (PT) ainda tenta encontrar uma saída para conter a alta dos preços dos alimentos — um desafio que parece fugir das mãos. Apesar de medidas como a isenção de imposto de importação sobre alguns produtos, o peso da inflação continua pressionando quem mais precisa.
O IPCA-15 de abril trouxe um novo balde de água fria: alta de 0,43%, puxada principalmente pelo grupo de alimentação e bebidas, que sozinho subiu 1,14%. Em meio à preocupação, o governo aposta agora na reformulação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) como estratégia para tentar aliviar a situação.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, prometeu novas regras para o vale-alimentação e o vale-refeição até maio. A ideia é reduzir as taxas cobradas pelos estabelecimentos, que acabam inflando o preço final das refeições.
Uma mudança complexa
Entre as propostas em estudo, estão a portabilidade dos cartões — permitindo que o trabalhador escolha qual operadora quer usar — e a interoperabilidade, que unificaria as máquinas de cartão. Há também quem defenda uma transformação mais radical: transferir o valor diretamente via Pix para os trabalhadores, sem a necessidade de cartões.
Mas o Banco Central (BC) não está nada animado com essas ideias. Para a autoridade monetária, o PAT foge da sua alçada e deveria ser tratado como política de trabalho, e não como parte do sistema de pagamentos.
Supermercados e empresas de benefícios em lados opostos
Enquanto supermercados querem que o pagamento seja feito direto via Caixa Econômica, cortando intermediários, as empresas de benefícios temem que isso acabe com o PAT como conhecemos, abrindo brechas para o uso do dinheiro em gastos que não sejam com alimentação.
Do lado do governo, há a expectativa de que a regulamentação ajude os mais de 21 milhões de trabalhadores atendidos pelo PAT, a maioria com salários de até cinco mínimos.
Isenção de imposto ainda sem efeito visível
Em paralelo, a isenção de imposto de importação de alimentos como arroz e feijão, aprovada em março, ainda não mostrou impacto significativo. Especialistas alertam que os produtos beneficiados representam uma fatia pequena do mercado e que, por enquanto, as oscilações de preço são mais resultado da volatilidade do que de políticas efetivas.
Enquanto isso, o prato do brasileiro segue mais caro, e o governo corre contra o relógio para dar alguma resposta antes que a insatisfação pese ainda mais.