
Janja antecipa viagem à Rússia e reabre debate sobre papel da primeira-dama
Com presença cada vez mais ativa em agendas internacionais, esposa de Lula enfrenta críticas da oposição, enquanto governo oficializa sua atuação e defende transparência
A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, embarcou nesta sexta-feira (2) para Moscou, onde integra a equipe de preparação da visita oficial do presidente Lula à Rússia. O presidente só parte no dia 7 de maio, para participar das comemorações dos 80 anos da vitória soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.
A antecipação da viagem de Janja, cinco dias antes do presidente, não foi explicada pelo governo. Essa não é a primeira vez que ela chega antes: o mesmo aconteceu em março, quando desembarcou no Japão dias antes de Lula.
A presença internacional de Janja tem crescido desde o início do mandato. Ela esteve em eventos como a abertura das Olimpíadas em Paris, reuniões da ONU e debates sobre segurança alimentar em Roma, a convite do presidente francês Emmanuel Macron. O papel mais ativo tem gerado reações, especialmente da oposição, que questiona os gastos e a relevância de sua participação em agendas diplomáticas.
Lula, por outro lado, tem defendido publicamente a liberdade e atuação da esposa. “Ela vai onde quiser, fala o que quiser e anda para onde quiser. Esse é o papel da mulher”, declarou em março. Na mesma ocasião, o presidente disse que Janja “não é clandestina” e não aceitará o papel passivo que costumava ser atribuído às primeiras-damas.
Em entrevista à BBC, Janja disse ter “papel de articuladora” no governo e afirmou que recebeu “autonomia total”. Desde a campanha presidencial, ela já demonstrava que não pretendia seguir o estereótipo da esposa discreta e cerimonial. Segundo ela, tanto ela quanto Lula falam com públicos diferentes e se complementam nessa comunicação.
Diante das cobranças por mais transparência, o governo passou a divulgar no fim de abril a agenda oficial da primeira-dama, seguindo um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU). A AGU também criou um cargo simbólico (sem remuneração) para institucionalizar sua presença em eventos e reuniões de governo.
O documento da AGU reconhece que a primeira-dama pode exercer funções de representação social, cultural, cerimonial, política e diplomática em nome do presidente da República. O parecer estabelece as bases legais para a atuação pública da esposa do chefe de Estado — algo inédito até então.
Janja deve participar da programação oficial da visita de Lula a Moscou, mas a agenda detalhada ainda não foi divulgada.