
“Janja em Moscou: entre o Bolshoi e a controvérsia, primeira-dama vira alvo de críticas por agenda na Rússia”
Com viagens internacionais custeadas pelo Estado, esposa de Lula mistura cultura, encontros políticos e passeios, enquanto oposição acusa “farra com dinheiro público”
Antes mesmo da chegada de Lula à Rússia, a primeira-dama Janja desembarcou em Moscou no dia 3 de maio, a bordo de um dos maiores aviões da Força Aérea Brasileira, o KC-30. Em menos de uma semana, já havia participado de pelo menos 18 compromissos oficiais — entre eles, visitas a universidades, reuniões com autoridades locais e passeios por centros culturais e artísticos. Tudo isso com o objetivo, segundo o governo, de fortalecer laços nas áreas de educação, cultura e combate à pobreza.
Apesar da justificativa oficial, a presença de Janja em solo russo tem gerado forte reação da oposição. Críticos apontam que, sem exercer qualquer cargo formal, ela tem acumulado viagens internacionais com altos custos ao erário, muitas vezes sem a companhia do presidente. A Justiça Federal de Brasília inclusive acatou uma ação popular que questiona a legalidade desses deslocamentos, argumentando que a primeira-dama estaria atuando como representante oficial do Brasil sem respaldo institucional.
O deputado Rodrigo Valadares (União-SE) não poupou críticas: “Ela se comporta como chefe de Estado, com agendas próprias, mas sem qualquer responsabilidade formal. Isso é uma afronta ao contribuinte.” Já o deputado estadual Guto Zacarias (União-SP) ironizou: “Virou rotina. Viagem atrás de viagem, sem sentido público. E nem o Lula está junto para ao menos dar um verniz institucional. Vamos expor cada uma dessas extravagâncias no Janjômetro”.
Em resposta, a assessoria de Janja afirma que sua agenda está alinhada ao decreto presidencial que autorizou a viagem para “promover iniciativas sociais, culturais e educacionais”, além de acompanhar Lula na cerimônia dos 80 anos da vitória sobre o nazismo. A Advocacia-Geral da União (AGU) reforçou que o papel da primeira-dama é de interesse público e que os gastos devem ser cobertos pelo Estado, desde que com transparência.
Durante sua estadia, Janja passou por instituições de ensino e cultura que, segundo analistas, fazem parte do esforço russo de ampliar sua influência internacional por meio do chamado “soft power”. Essa estratégia já teria sido usada em países africanos, com ações culturais disfarçadas que visam criar apoio político à Rússia e enfraquecer a presença ocidental.
No roteiro, Janja visitou o Kremlin a convite do governo de Putin, participou de um encontro com professores de português e com membros da comunidade brasileira, e fez um tour pelo tradicional Teatro Bolshoi. Enquanto isso, a polêmica em torno do custo-benefício de sua atuação continua a alimentar debates no Congresso e nas redes sociais.