Justiça concede liberdade a MC Poze do Rodo e impõe condições para investigação

Justiça concede liberdade a MC Poze do Rodo e impõe condições para investigação

Cantor, preso por suposta ligação com o tráfico e apologia ao crime, terá que cumprir medidas cautelares enquanto processo segue em curso

Na segunda-feira (2), a Justiça do Rio de Janeiro concedeu habeas corpus ao cantor Marlon Brendon Coelho Couto, conhecido como MC Poze do Rodo, que estava preso desde o dia 29. Com a decisão do desembargador Peterson Barroso, a prisão temporária foi revogada, e Poze agora aguarda o andamento das investigações em liberdade, sob certas restrições.

Apesar da ordem judicial, até o final do dia o sistema penitenciário ainda não havia sido oficialmente notificado, e o cantor permanecia na Penitenciária de Bangu 3, no Complexo de Gericinó. Na decisão, o magistrado destacou que não havia justificativa suficiente para manter a prisão, pois a medida não era essencial para o andamento do processo.

Barroso também criticou a maneira como a Polícia Civil conduziu a prisão, apontando indícios de procedimentos irregulares, como o uso desproporcional de algemas e a exposição midiática excessiva do artista. Além disso, lembrou que MC Poze já foi investigado antes por casos semelhantes e acabou absolvido em instâncias inferiores.

Em um trecho contundente, o desembargador ressaltou que “a prisão deve mirar os verdadeiros chefes das facções criminosas, que roubam, matam e trafegam drogas, e não jovens que buscam ganhar a vida com a música.” Ele também fez um paralelo crítico ao fato de que pessoas envolvidas em grandes fraudes, como no INSS, ficam impunes, enquanto um artista é preso por atuar em sua área.

Com a liberdade, MC Poze terá que seguir regras rígidas, como comparecer mensalmente ao tribunal, manter contato constante com a Justiça, não mudar de endereço sem aviso e evitar contato com investigados e membros do Comando Vermelho, facção criminosa ligada às investigações. O cantor também deverá entregar seu passaporte.

O advogado Fernando Henrique Cardoso Neves, que representa Poze, celebrou a decisão como um reconhecimento da presunção de inocência, princípio básico do Direito.

Contexto da prisão

Poze foi detido pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) do Rio, acusado de fazer apologia ao crime e ter envolvimento com o tráfico, além de possível lavagem de dinheiro para o Comando Vermelho. A prisão aconteceu em sua casa, um condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes.

Segundo a polícia, o cantor realiza shows em áreas dominadas pelo Comando Vermelho, onde traficantes armados garantem a segurança dos eventos. As letras das músicas, segundo as investigações, exaltam o tráfico e incentivam conflitos armados entre facções, gerando vítimas inocentes.

Esses eventos, apontam os investigadores, são usados pela facção para aumentar seus lucros e financiar a compra de armas e drogas, o que torna a apologia algo além da liberdade artística, configurando crime.

Vídeos recentes mostraram cenas preocupantes de shows do MC, com criminosos armados exibindo fuzis abertamente, reforçando a suspeita da polícia.

O advogado do cantor, porém, contesta a narrativa, alegando que a criminalização de um gênero musical, como o funk, remete a uma perseguição histórica que também aconteceu com o samba no passado.

Por fim, vale lembrar que, ao entrar no sistema prisional, Poze declarou sua “ideologia” como ligada ao Comando Vermelho, um procedimento comum para evitar conflitos entre presos no Rio.

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